São muito complexos e, também por isso, raramente realizados. Mas a evolução da ciência e medicina tem permitido que o transplante de rosto se repita. Ao todo, desde 2005, já foram realizados 40, em vários países. Agora, foi a vez do Canadá entrar para a lista, com o primeiro transplante nacional e uma estreia também para a Commonwealth.
Realizado por uma equipa de cirurgiões do Hospital Maisonneuve-Rosemont, de Montreal, Canadá, liderada pelo cirurgião plástico Daniel Borsuk, o transplante de rosto foi realizado em maio passado num homem de 64 anos, que se tornou o mais velho do mundo a receber uma cara nova.
Gravemente desfigurado num acidente de tiro, foi submetido a uma intervenção de 30 horas, que exigiu a experiência de vários especialistas e a colaboração de mais de 100 profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros e muitos outros.
Uma nova vida para homem de 64 anos
“Esta delicada operação é o resultado de anos de trabalho coordenado e meticuloso de uma equipa incrível, a que se junta a incrível coragem e cooperação do doente e da sua família”, explica Borsuk.
“Através da combinação de ciência, tecnologia, engenharia e arte, tentamos basear-nos no conhecimento e experiência dos pioneiros no campo para realizar o melhor transplante facial possível para o nosso paciente.”
Há sete anos, o homem foi desfigurado por um tiro acidental. Desde então, vivia com dor constante, tendo sido submetido a cinco cirurgias reconstrutivas.
Forçado a viver com uma traqueostomia (uma abertura na traqueia), tinha dificuldade em respirar, dormir, comer e falar. A isto juntavam-se as interações sociais e aparições públicas, reduzidas, que o tornaram um quase recluso.
O transplante de rosto foi única opção para restaurar as duas mandíbulas, músculos faciais e nervos, dentes, lábios e nariz. Quatro meses depois da intervenção, está bem, tendo recuperado totalmente a capacidade de respirar. Já começou a mastigar com suas novas mandíbulas, a cheirar com o seu novo nariz e a falar usando os seus novos lábios.
Perícia médica e coragem, uma combinação de sucesso
A equipa que o tornou possível foi composta por nove cirurgiões, tendo a perícia médica sido uma parte importante da razão pela qual este transplante de rosto foi um sucesso.
“Como cirurgião plástico, sei que, não importa se grande ou pequeno, os ferimentos no rosto têm um aspeto particularmente simbólico e estão intimamente ligados à nossa identidade”, refere o especialista, que considera que o potencial do transplante era, por isso, enorme.