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Hora da medicação importa tanto como a dose do medicamento

tratamentos de acordo com a hora do dia

E se lhe disséssemos que a hora do dia em que se tomam medicamentos ou fazem tratamentos influencia o resultado dos mesmos? Ou que o relógio pode ajudar a otimizar a quimioterapia? É a cronoterapia, assim se chama a administração de tratamentos de acordo com os nossos relógios biológicos, que o confirma cada vez mais.

Do laboratório da Faculdade de Medicina da University of North Carolina at Chapel Hill, nos EUA, vem a mais recente novidade sobre este tema, pela mão de Aziz Sancar, Prémio Nobel da Química em 2015, que atualmente se dedica ao estudo do ciclo circadiano e das reparações feitas ao ADN.

No seu laboratório, foi possível criar uma forma de medir a reparação dos danos causados pela cisplatina, uma forma de quimioterapia comum usada para tratar tumores como o do pulmão, testículos, cabeça e pescoço, ovário, entre outros, e que mata as células cancerígenas, embora seja tóxica para os rins, fígado e sistema nervoso. Efeitos que limitam a sua utilidade.

E pela primeira vez, foi também medida a reparação do ADN após tratamentos com cisplatina ao longo de todo um ciclo circadiano de 24 horas, no genoma de um mamífero.

Até aqui, a cronoquimioterapia, o mesmo é dizer, o ajuste dos tratamentos de quimioterapia a determinados momentos do dia, de acordo com o relógio, para potenciar a morte das células cancerígenas e a redução dos efeitos secundários tóxicos, não tem tido os resultados esperados.

Para Sancar, isso acontece porque os estudos clínicos anteriores na área da cronoterapia foram apenas empíricos, ou seja, os médicos limitaram-se a administrar a terapêutica em vários momentos, tendo depois observado a resposta dos doentes consoante a hora do dia, não levando em conta quando são realizadas as reparações no ADN, um dos aspetos determinantes do cancro e da saúde normal.

“Verificamos que existem cerca de 2.000 genes”, afirma Sancar, autor sénior do estudo. “Acreditamos que os padrões circadianos e cinéticos em todo o genoma e em vários órgãos nos vão ajudar a descobrir e desenvolver os melhores regimes de tratamento para pessoas com cancro”, acrescenta.

“A nossa abordagem passa por entender os fundamentos precisos da reparação do ADN e do ciclo circadiano”, justifica o coautor do estudo, Chris Selby, que acredita que, “seria possível adaptar os tratamentos de quimioterapia tendo em conta com este conhecimento”.

Cromoterapia ou como retardar a progressão do cancro com a ajuda do relógio

Há muito que Sancar se debruça sobre o tema, tendo sido um dos três cientistas vencedores do Prémio Nobel da Química em 2015, uma distinção que resulta do facto de ter demonstrado como é feita a reparação do ADN, o que ajuda a explicar porque é que não temos todos cancro de pele, apesar da radiação ultravioleta estar constantemente a danificar o nosso ADN e justifica porque é que as células permanecem saudáveis mesmo quando expostas a carcinógenos.

Conhecer como e quando são reparadas as células normais de diferentes órgãos pode ajudar os médicos a perceber quais os melhores momentos para administrar a medicação. Como a cisplatina.

“O nosso trabalho sugere que é melhor administrar a cisplatina aos doentes quando a normal reparações do ADN celular estiver no seu auge”, afirma Sancar. “Neste momento, estamos ainda a aprender sobre os mecanismos básicos de reparação do ADN e a sua relação  com o ciclo circadiano. Mas acreditamos que entender a forma precisa de funcionamento do nosso ciclo circadiano é fundamental para retardar a progressão do cancro e que é possível aproveitar o poder da quimioterapia, ao mesmo tempo que se diminuem os efeitos secundários tóxicos.”

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