Metade dos doentes que foram hospitalizados com COVID-19 grave apresentam lesões cardíacas. Os danos cardíacos incluem inflamação do músculo cardíaco (miocardite), formação de cicatrizes ou morte do tecido cardíaco (enfarte), restrição do fornecimento de sangue ao coração (isquemia) e uma combinação dos três.
A certeza é partilhada, em forma de estudo, liderado por cientistas do Imperial College London e University College London e publicado na revista European Heart Journal, que envolveu 148 pacientes de seis hospitais de Londres.
A equipa realizou exames de ressonância magnética em pessoas internados no hospital e que apresentavam elevação de uma proteína no sangue chamada troponina.
Graham Cole, autor principal do estudo e especialista do National Heart and Lung Institute do Imperial College London, considera que “estas descobertas confirmam complicações e resultados adicionais para os doentes hospitalizados com COVID-19 grave. Muitas destas pessoas têm doenças subjacentes e podem ter mais problemas após a recuperação da COVID-19. O estudo mostra que as imagens de ressonância magnética do coração são úteis em doentes com troponina elevada”.
A troponina é libertada na corrente sanguínea após um ataque cardíaco. Níveis elevados podem existir quando uma artéria fica bloqueada ou ocorre inflamação do coração. E muitos pacientes hospitalizados com COVID-19 tiveram os seus níveis aumentados durante a fase mais crítica da doença, quando o corpo apresenta uma resposta imunitária exagerada à infeção.
Muitos dos doentes que desenvolvem COVID-19 grave têm problemas de saúde preexistentes relacionados com o coração, incluindo diabetes, aumento da pressão arterial e obesidade. O que os investigadores queriam perceber é se o coração era diretamente afetado pela COVID-19 grave.
A equipa analisou, por isso, 148 pacientes com COVID-19 que receberam alta, até junho de 2020, de seis hospitais de Londres. Destes, os que apresentavam níveis anormais de troponina fizeram uma ressonância magnética do coração um ou dois meses após a alta, para averiguar a presença de danos. E os resultados foram comparados com os elementos de um grupo de controlo, composto por pessoas que não tiveram COVID-19, mas agrupadas por idade e outras comorbilidades, como hipertensão e diabetes, bem como 40 voluntários saudáveis.
Danos cardíacos meses após a alta
Os especialistas encontraram evidências de lesões no músculo cardíaco que podem ser vistas nas imagens um ou dois meses após a alta.
A função do ventrículo esquerdo do coração, a câmara responsável por bombear sangue com oxigénio para todas as partes do corpo, era normal em 131 dos 148 pacientes, mas as cicatrizes, lesões no músculo cardíaco ou problemas com o fornecimento de sangue do coração estavam presentes em 80 pessoas.
O padrão de cicatrização ou lesão tecidual teve origem na inflamação em 39 pacientes, em cardiopatia isquémica, que inclui enfarte ou isquemia, em 32 pacientes, e de ambos em nove. Doze pacientes pareciam ter inflamação cardíaca contínua.
Embora alguns dos danos cardíacos possam ter sido preexistentes, os investigadores sugerem que alguns dos danos eram novos e provavelmente causados pela COVID-19. Nos casos mais graves, existe a preocupação de que essa lesão possa aumentar os riscos de insuficiência cardíaca no futuro, mas é necessário mais trabalho para neste tema.
Os especialistas sugerem ainda que estes resultados possam ser usados para identificar pacientes com maior ou menor risco e sugerir potenciais estratégias para melhorar os seus resultados.