Não há estatísticas nacionais capazes de fazer o retrato das doenças autoimunes em Portugal, mas no seu conjunto, estima-se que estas doenças afetem três vezes mais mulheres do que homens. De resto, os dados revelam que são uma das principais causas de morte entre as mulheres com menos de 65 anos.
“São doenças que surgem em idades jovens, doenças que podem ser muito agressivas e afetar órgãos nobres, com elevada morbilidade e aumento da mortalidade. Estima-se, por exemplo, que a artrite reumatoide diminua em 10 anos a sobrevida média”, confirma Elisa Serradeiro, presidente da XXIV Reunião Anual do Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes (NEDAI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), que este ano discute os problemas que se levantam no dia-a-dia de quem trata estes doentes.
As estimativas do NEDAI, datadas de 2012, apontavam para a existência de cerca de 100.000 pessoas com doenças autoimunes em Portugal.
“Neste momento serão certamente mais, pois há mais casos diagnosticados e um aumento da prevalência, dado o aumento da sobrevida verificado ao longo das últimas décadas”, refere a especialista.
Um diagnóstico tardio, “mas também, e sobretudo, a agressividade da doença”, justificam que estes problemas integrem a lista das que mais matam no feminino. Para a especialista, é necessário “fazer mais intervenções junto dos médicos de família, nos centros de saúde, promover sessões de formação, de forma a alertar para sintomas e sinais sugestivos de doença autoimune, como aliás temos feito, com eficácia, na nossa área de influência”.
Uma sensibilização que ajuda a que os sintomas, muitas vezes vagos, das mulheres mais jovens, sejam levados a sério. “Sendo doenças multissistémicas, podem ter sintomas de diferentes órgãos/sistemas. Podem confundir e simular outras doenças; podem ser inespecíficos e passar despercebidos.”
Cada vez mais respostas
Ao nível dos tratamentos, são cada vez mais as respostas disponíveis. “Um exemplo são os biológicos, que mudaram de forma muito positiva a evolução de algumas doenças autoimunes. Esta é uma das áreas da medicina em maior expansão e ainda alvo de muita investigação, quer básica, quer clínica. Todos os anos saem novos fármacos, todos os anos saem novas classificações, novas escalas, novos princípios fisiopatológicos. Na década de 50 a mortalidade associada ao Lúpus Eritematoso Sistémico era de cerca de 50% aos 5 anos e atualmente é inferior a 10% aos 5 anos”.
Para os médicos, o desafio começa no diagnóstico, refere Elisa Serradeiro. “Muitas vezes os sintomas ou sinais são insidiosos e vão-se somando até ao diagnóstico definitivo. Pode também surgir associação de várias doenças autoimunes. Em doentes diferentes, a mesma doença pode ter apresentações diversas. Acresce o problema das comorbilidades associadas e os efeitos laterais dos fármacos usados, a complicar o seguimento dos doentes.”
Doentes que vão marcar presença na XXIV Reunião Anual do NEDAI, que arranca esta quinta-feira (12 de abril), em Vila Real e que decorre até a 14 de abril, e onde será feito um ponto de situação de diversas doenças autoimunes sistémicas, como miopatias inflamatórias, vasculites, esclerose sistémica, síndrome de Sjögren e artrite reumatóide.
“É importante os doentes saberem o que têm, colaborarem e partilharem experiências. Cada vez mais os doentes devem ser envolvidos nas decisões terapêuticas, cada vez mais os doentes têm acesso a informação sobre as suas doenças e por isso deve haver uma aproximação de todos os participantes nestas decisões.”