
Uma em cada quatro pessoas em todo o mundo, ou seja, quase 2,5 mil milhões, pode enfrentar algum grau de perda de audição até 2050, com pelo menos 700 milhões a precisarem de acesso a tratamento e reabilitação, alerta um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O primeiro Relatório Mundial sobre Audição prevê que em 2050 o maior número de pessoas com algum grau de perda auditiva deverá ser encontrado na região do Pacífico Ocidental, que inclui países como o Camboja, Malásia, Filipinas e Vietname, e na região do Sudeste Asiático, onde se encontram o Bangladesh, Butão, Índia e Indonésia.
O relatório enfatiza a necessidade urgente de iniciativas para prevenir e combater a perda auditiva, financiando e ampliando o acesso a serviços de saúde auditiva.
“O investimento nos ouvidos e cuidados auditivos tem-se mostrado eficaz em termos de custos” e os governos podem “esperar um retorno de quase 16 dólares para cada dólar investido”, refere a OMS.
O tratamento auditivo não faz atualmente parte dos sistemas nacionais de saúde da maioria dos países, faltando, muitas vezes, recursos humanos, mostra o relatório, que avança que 78% dos países com rendimentos mais baixos têm menos de um médico especialista em ouvido, nariz e garganta por milhão de habitantes e 93% têm menos de um audiologista por milhão de habitantes.
Ao integrar os cuidados auditivos nos cuidados primários de saúde, usando estratégias como a partilha de tarefas e treino, a questão da falta de recursos humanos pode ser superada, avança relatório, acrescentando a importância do tratamento médico e cirúrgico precoce, reabilitação e uso de aparelhos auditivos.
Evitar a perda de audição
Quase 60% da perda auditiva em crianças pode ser evitada com medidas que incluem a vacinação contra a rubéola e meningite, melhoria nos cuidados maternos e neonatais e triagem para otite média (inflamação do ouvido médio).
“Nos adultos, o controlo do ruído, escuta segura e vigilância para medicamentos ototóxicos (medicamentos usados para tratar infeções graves, que também podem danificar o ouvido), juntamente com uma boa higiene do ouvido podem ajudar a manter uma boa audição e a reduzir o potencial de perda auditiva”, alerta a OMS.
Anil K. Lalwani, diretor da divisão de otologia, neuro-otologia e cirurgia da base do crânio da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, afirma que “a ausência de acesso imediato à saúde auditiva em todo o mundo é uma farsa moderna de proporções monumentais”.
“Embora ocultas, as suas consequências devastadoras são muito aparentes nas dificuldades económicas, empregabilidade, cognição e qualidade de vida. Devemos agir, e devemos agir agora”, refere, em declarações ao Scidev.Net.
“Precisamos de tornar a saúde auditiva acessível e económica. O uso de agentes comunitários de saúde pode melhorar a acessibilidade, enquanto a tecnologia eficaz e mais barata aumentará a acessibilidade.”
Kaukab Rajput, médico consultor no Great Ormond St Hospital Foundation Trust, em Londres, recomenda “testes de audição regulares, como acontece com a visão, pelo menos uma vez por ano”.
“A intervenção precoce e a otimização minimizariam o impacto da perda auditiva e, à medida que a tecnologia avança, o estigma e a hesitação em usar aparelhos auditivos ou implantes vão tornar-se coisa do passado”, refere.