Um em cada três doadores de gâmetas (óvulos ou espermatozoides) gostaria de saber se a sua doação deu ou não origem a uma gravidez ou ao nascimento de uma criança. Uma informação que, no entanto, a maioria dos beneficiários deste material reprodutivo não quer partilhar.
Os resultados fazem parte de um estudo desenvolvido no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que chama a atenção para a importância de se considerarem as opiniões de dadores e de beneficiários envolvidos nas técnicas de Procriação Medicamente Assistida, no sentido de se criarem políticas centradas nas pessoas.
Um trabalho que procurou saber se tanto os dadores, como os recetores estão disponíveis para partilhar entre eles informação médica, informação identificável e informação relativa aos resultados da doação.
E os dados não deixam dúvidas: a maioria dos dadores e dos beneficiários concordam que se partilhe informação médica sobre quem doa os seus gâmetas. Um consenso que fica por aqui, uma vez que, no que diz respeito à revelação de informação pessoal sobre dadores, beneficiários e crianças nascidas através deste processo, não há acordo.
Banco Público de Gâmetas ao serviço do SNS
Designado People-centred policy for data governance in gamete donation: access to information by gamete donors and recipients, o estudo foi desenvolvido por Tiago Maia, no âmbito do Mestrado em Saúde Pública da Universidade do Porto, sob orientação da investigadora do ISPUP, Cláudia de Freitas.
Uma investigação conduzida ao abrigo do projeto “Bionetworking e cidadania na doação de gâmetas”, liderado por Susana Silva, investigadora do ISPUP, e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, e que envolveu uma amostra de 230 pessoas (69 dadores e 161 beneficiários), recrutadas no Banco Público de Gâmetas entre julho de 2017 e abril de 2018.
Em Portugal, o Banco Público de Gâmetas é um serviço disponibilizado pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), responsável pelo recrutamento e seleção de dadores de óvulos e espermatozoides.
A recolha e preservação destes donativos, usados depois em técnicas de Procriação Medicamente Assistida, é realizada em centros de colheita especializados, localizados em hospitais públicos do SNS.