Um novo estudo, liderado por uma equipa de cientistas da Universidade de Cambridge e do Imperial College London, no Reino Unido, conclui que o impacto mental da COVID-19 grave em áreas como a memória, atenção ou resolução de problemas pode ser equivalente a 20 anos de envelhecimento.
Os especialistas acreditam que existe um comprometimento cognitivo grave, o equivalente à perda de 10 pontos de QI (quociente de inteligência). Um comprometimento que é detetável mais de seis meses após a doença aguda e, segundo os investigadores, qualquer recuperação é, na melhor das hipóteses, gradual.
“Há um grande número de pessoas que andam por aí ainda a enfrentar problemas de cognição muitos meses depois. Precisamos urgentemente de ver o que pode ser feito para ajudar essas pessoas”, refere Adam Hampshire, professor do Departamento de Ciências do Cérebro do Imperial College London, e primeiro autor do estudo.
Cérebro afetado: perda de QI
Não é de agora que se fala no impacto cognitivo e mental a longo prazo da Covid-19, sendo muitos os doentes que dão conta de sintomas como fadiga, ‘nevoeiro cerebral’, problemas para recordar palavras, distúrbios do sono, ansiedade e até transtorno de stress pós-traumático meses após a infeção.
Neste estudo, os especialistas analisaram dados de 46 pessoas com Covid-19 atendidas nos hospitais (na enfermaria ou nos cuidados intensivos), 16 das quais que necessitaram de ventilação mecânica durante a sua permanência no hospital.
Os doentes foram alvo de testes cognitivos, realizados em média seis meses após a doença, que mediram dados referentes à memória, atenção e raciocínio e ainda ansiedade, depressão e stress pós-traumático. Testes que confirmaram que tinham tempos de resposta mais lentos. Os défices eram ainda mais pronunciados quando foram acompanhados seis meses depois, com os efeitos mais significativos registados entre aqueles que necessitaram de ventilação mecânica.
Ao comparar os doentes com a população geral, foi possível confirmar que a magnitude da perda cognitiva associada à Covid-19 grave era o equivalente à perda de 10 pontos de QI.
Os sobreviventes apresentaram pontuações particularmente más em tarefas como raciocínio analógico verbal, uma descoberta que suporta o problema comummente relatado de dificuldade em encontrar palavras. E mostraram também velocidades de processamento mais lentas.
David Menon, professor da Divisão de Anestesia da Universidade de Cambridge, autor sénior do estudo, refere que “o comprometimento cognitivo é comum a uma ampla gama de distúrbios neurológicos, incluindo demência e até envelhecimento rotineiro, mas os padrões que vimos da COVID-19 são diferentes de tudo isso”.
Causas ainda desconhecidas
“Acompanhamos alguns doentes dez meses após a infeção aguda e fomos capazes de ver uma melhora muito lenta. Embora isso não tenha sido estatisticamente significativo, pelo menos está a ir na direção certa, mas é muito possível que alguns desses indivíduos nunca recuperem totalmente”, afirma Menon.
Existem vários fatores que podem causar os deficits cognitivos, dizem os investigadores. A infeção viral direta causada pela Covid-19 é uma justificação possível, mas é improvável que seja uma causa importante; em vez disso, pensa-se que uma combinação de fatores contribua para tal, incluindo fornecimento inadequado de oxigénio ou sangue ao cérebro, bloqueio de vasos sanguíneos grandes ou pequenos devido à coagulação e hemorragias microscópicas. No entanto, evidências emergentes sugerem que o mecanismo mais importante pode ser o dano causado pela própria resposta inflamatória do corpo e pelo sistema imunitário.
Subscreva as nossas notificações. Siga-nos também nas redes sociais!