Scroll Top

Porto recebe conferência mundial sobre comunicação em saúde

congresso de comunicação em saúde no Porto

O Porto prepara-se para receber a International Conference on Communication in Healthcare, a maior conferência do mundo sobre a importância da comunicação na saúde. Até dia 4 de setembro, professores, investigadores, profissionais da área da saúde e formuladores de políticas de todo o mundo vão juntar-se na Invicta e trabalhar para “melhorar todos os aspetos da comunicação” nesta área.

E a melhor forma de comunicar com os doentes é um dos temas em destaque. Ronald Epstein, médico de família, professor, investigador e escritor, dedicou a sua carreira a compreender e melhorar a comunicação entre médico e doente, a qualidade dos cuidados e a atenção médica. 

E é ele o protagonista de uma sessão sobre a necessidade de repensar a comunicação com os doentes mais graves. Até porque, discussões honestas, claras e com compaixão sobre o prognóstico são fundamentais para a tomada de decisão informada e gestão nas doenças graves.

“No entanto, vários estudos dos últimos 20 anos mostram um padrão consistente de relutância, evitando-se discussões de prognóstico, assim como apreensões erradas sobre estimativas de sobrevivência e cura, mesmo quando doentes e médicos têm treino de comunicação”, lê-se no resumo da sua intervenção.

Um equilíbrio difícil

 Epstein vai rever a investigação sobre as barreiras à comunicação do prognóstico, para enquadrar os resultados empíricos de seus dois ensaios clínicos, que estudaram os efeitos da ativação do doentes e do treino de capacidades de comunicação do oncologista e os resultados no contexto do cancro avançado.

Estudos que vão orientar a discussão sobre o equilíbrio entre manter a esperança e a divulgação honesta de informações, a “toxicidade da informação” e os papéis do afeto, da autoconsciência, da autonomia relacional e da gestão do medo. 

Doentes, um dos lados esquecidos da comunicação

A Faculdade de Engenharia e a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto são os palcos do evento, que vai contar também com uma intervenção de Meg Gaines, fundadora e líder do Centro Interdisciplinar de Parcerias com Doentes da Universidade de Wisconsin, nos EUA, que treina futuros profissionais de saúde, direito e política, para defender os doentes.

A especialista considera que enquanto poucos se opõem ao “envolvimento do doente” na assistência médica, o que isto significa, na prática, é ainda uma incógnita. Não só o envolvimento destes, mesmo nos seus próprios cuidados, é ainda esporádico, como é ainda mais rara a sua inclusão enquanto parceiros na investigação, ensino ou defesa de políticas de saúde.

No entanto, considera ser difícil imaginar como podemos querer uma ciência da comunicação na área da saúde e ensiná-la a outros quando o lado B lado da comunicação, ou seja, os doentes, está ausente.

Meg Gaines não tem dúvida que os doentes “são professores convincentes”, que os seus testemunhos, partilhados nas salas de aula, deixam marcas nos alunos de medicina. No entanto, barreiras logísticas e financeiras impedem que estas vozes estejam presentes na altura de definir, por exemplos, currículos.

Como podemos envolver os doentes, de forma mais robusta, na sala de aula, enquanto coautores do processo de ensino? Esta e outras são questões que vão estar em destaque.

Posts relacionados