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Uso racional de sangue nos cuidados paliativos: um equilíbrio difícil de encontrar

sangue

Numa altura em que tanto se tem falado sobre a escassez de sangue, resultado do distanciamento imposto pela pandemia que afastou muitos portugueses das dádivas, um grupo de especialistas reúne-se, em formato digital, para debater o ‘Uso Racional de Sangue nos Cuidados Paliativos’, uma área que adquire cada vez mais importância.

“O sangue é um recurso escasso, não há engenharia genética que o consiga produzir”, reforça Rui Tato Marinho, Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Diretor do Centro de Medicina Paliativa da mesma Faculdade e diretor do Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte,  gastrenterologista e hepatologista, que organiza o evento e será um dos oradores.

“Houve um impacto muito grande da pandemia nas dádivas de sangue, que tornou ainda mais escasso este recurso, que além de tudo é muito caro. Se o sangue e os seus derivados fossem considerados medicamentos, eram dos mais caros e aqueles em que o País mais milhões gasta.”

É amanhã, a partir das 18.30h, que se irá falar sobre o uso racional de sangue numa área que ganha cada vez mais relevância, os cuidados paliativos, e que impacta milhares de portugueses.

De acordo com o especialista,  estima-se “que temos à volta de 90 mil portugueses a precisar de cuidados paliativos, dos quais 80 mil adultos e cerca de 8 mil crianças. São pessoas em situação muito difícil, e não são só estas pessoas que estão em sofrimento, mas também as suas famílias. Eu diria que talvez meio milhão de portugueses são direta ou indiretamente afetados pelos cuidados paliativos, o que torna este um tema extrema relevância social”. 

E uma das complicações mais frequente nas pessoas em fim de vida é a anemia. “É muito fácil encontrar, nos cuidados paliativos, pessoas com anemia, que tendencialmente poderiam ser transfundidas. O que queremos é alertar para a melhor gestão do sangue em situações em que já não há praticamente nada a fazer, a não ser dar conforto. É não usar o sangue em vidas que não vão ser salvas e, por outro lado, direcioná-lo para salvar a vida de quem mais precisa.”

Paulo Pina, especialista em Medicina Paliativa e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, outro dos oradores do evento, realça que, “na medicina paliativa, dado que a maioria dos doentes tem uma condição de terminalidade, ou seja, ainda que nem todos sejam doentes terminais, são doentes com doenças incuráveis, é preciso ser mais prudente no pedido de sangue”.  

“Nós não dizemos que somos contra ou a favor do sangue, somos a favor da proporcionalidade, ou seja, somos a favor de tudo, se a situação do doente assim o permitir”, refere o especialista, reforçando que “o médico tem de ser mais criterioso e não usar de forma obstinada nem os exames complementares de diagnóstico, nem os tratamentos”.

Quanto ao uso racional de sangue, classifica-o como “vital, porque estamos a falar de um recurso caro e nem sempre muito abundante, que está dependente de doações”.

O especialista defende também a necessidade de mais “literacia, para os leigos e para os profissionais de saúde. O modelo triunfalista da medicina tem de ser abandonado. Nós não conseguimos tratar todos nem curar todos, temos é de cuidar de todos os que nos procuram, sem abandonar doentes. Mas não podemos prometer que os vamos curar a todos. E os tratamentos têm de ser proporcionais às patologias”. 

A Rui Tato Marinho vão juntar-se ainda, neste debate, Álvaro Beleza, diretor do Serviço de Sangue do Hospital de Santa Maria, a quem caberá falar sobre o uso racional de sangue e as melhores estratégias para o seu aproveitamento. A moderação estará a cargo da jornalista de Saúde, Marina Caldas.

Aberto a todos os profissionais de saúde, o evento reforça ainda existência de estratégias para gerir melhor este escasso e caro recurso: “na anemia, o ferro injetável é uma dessas alternativas; promover as dádivas de sangue como um dever humanitário e de cidadania; reaproveitamento do sangue gasto durante uma cirurgia, etc”, refere ainda Rui Tato Marinho.

Mais informações em: https://www.medicina.ulisboa.pt/conversa-com

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