Um estudo realizado nos Estados Unidos descobriu que, apesar de as taxas de mortalidade por cancro terem vindo a cair entre 1999 e 2018, o mesmo não acontece para as taxas de mortalidade por doença cardíaca, que têm aumentado desde 2010 entre as mulheres.
“As mulheres jovens estão a tornar-se menos saudáveis, o que agora está a reverter melhorias anteriores nas mortes por doenças cardíacas”, confirma Erin Michos, autora sénior do estudo e especialista da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, EUA.
“Com o agravamento das epidemias de diabetes e obesidade nos países desenvolvidos, as nossas descobertas são um sinal de alerta, de que precisamos prestar mais atenção à saúde das mulheres jovens.”
“As mulheres colocam frequentemente a saúde e as necessidades dos outros antes das suas, cuidando muitas vezes dos filhos e dos pais e trabalhando a tempo inteiro”, continuou a investigadora.
“Mas se elas tiverem um ataque cardíaco fatal, não vão estarão lá para ajudar os seus entes queridos. As mulheres devem priorizar a sua própria saúde, sobretudo porque as doenças cardíacas são amplamente evitáveis.”
Taxas de mortalidade a subir na doença cardíaca
As doenças cardíacas são a principal causa de morte em todo o mundo. Na faixa etária com menos de 65 anos, nos países desenvolvidos, a maioria das mortes é devida ao cancro, com as doenças cardíacas a surgirem em segundo lugar.
Este estudo, publicada no European Heart Journal – Quality of Care and Clinical Outcomes, comparou mortes relacionadas com doenças cardíacas e cancro nas mulheres com menos de 65 anos nos Estados Unidos.
Durante um período de 19 anos, as taxas de mortalidade ajustadas por idade para cancro e doença cardíaca foram de 52,6 e 24,0 por 100.000, respetivamente. A causa mais comum de morte por doença cardíaca foi a doença isquémica do coração (56%), enquanto o cancro do pulmão (23%) se destacou como a principal causa de morte por tumores malignos.
Ao longo de todo o período do estudo, as taxas de mortalidade ajustadas por idade diminuíram tanto para o cancro, como para as doenças cardíacas. Mas enquanto as taxas de mortalidade por cancro caíram consistentemente ao longo desse período, já as taxas de mortalidade por doenças cardíacas caíram inicialmente, mas depois aumentaram entre 2010 e 2018.
O que fez com que a diferença absoluta de mortalidade entre cancro e doenças cardíacas tivesse diminuído significativamente, passando de 32,7 para 23,0 por 100.000/ano.
“Se não forem tomadas medidas extremas de saúde pública para mitigar os fatores de risco cardiovascular, com foco em grupos de alto risco, a mortalidade por doenças cardíacas pode substituir o cancro e tornar-se a principal causa de morte em mulheres jovens.”
O primeiro autor deste estudo, Safi Khan, da West Virginia University, nos EUA, considera serem “necessários esforços mais intensos para prevenir e tratar doenças cardíacas em mulheres jovens para reverter o aumento de mortes”.
Erin Michos alerta para o “equívoco de que as mulheres não correm risco de doença cardíaca antes da menopausa, mas um terço dos seus problemas cardiovasculares ocorrem antes dos 65 anos”.
“A maioria das doenças cardíacas pode ser evitada com uma dieta saudável e equilibrada, atividade física, não fumar e manter uma pressão arterial, glicemia, nível de colesterol e peso corporal saudáveis. Só porque uma mulher não está na menopausa não significa que esteja isenta de risco. Infelizmente, o primeiro ataque pode ser fatal, por isso precisamos de fazer melhor com a prevenção.”