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Desfecho fatal para maioria dos doentes com insuficiência cardíaca

Mortes por insuficiência cardíaca

É por muitos considerada a epidemia do século XXI, um problema de saúde que continua a desafiar médicos e doentes. E os dados sobre a insuficiência cardíaca são a prova disso mesmo. “Verificamos, em Portugal e no resto do mundo Ocidental, que apesar das evoluções terapêuticas, a mortalidade por insuficiência cardíaca (IC) no médio e longo prazo é muito elevada”, confirma Paulo Bettencourt, especialista em Medicina Interna.

“Para se ter uma ideia, ao fim de cinco anos, cerca de 70% dos doentes que estiveram internados por episódio de IC aguda tiveram um desfecho fatal. Estes números espelham bem a ‘malignidade’ desta condição”, acrescenta o presidente de um encontro que vai ter a IC como protagonista, a 1ª Reunião do Núcleo de Estudos de Insuficiência Cardíaca (NEIC) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), que se realiza a 29 de setembro, no Porto.

“Atualmente, cerca de 20% dos internamentos em medicina interna são por episódios de IC aguda”, refere, reforçando que “todos estes números são factos que nos levam a refletir na necessidade de termos abordagens que modifiquem adicionalmente o percurso sombrio destes doentes”.

Esse é, de resto, um dos motes da reunião do NEIC, onde se vão falar sobre “os avanços muito significativos nesta condição, quer em termos do seu conhecimento, quer de terapêuticas que melhoram a sua sobrevida”, assim como da organização dos cuidados de saúde, “um dos aspetos relevantes na abordagem destes doentes”.

São múltiplos os benefícios conhecidos pelos programas de IC. Este aspeto, assim como as experiências nacionais e de Espanha em programas de IC, serão partilhados e debatidos na reunião. “Pretendemos, com esta partilha, poder gerar e fazer crescer programas de IC no âmbito da medicina interna, adaptadas a cada realidade local.”  

Dificuldades no diagnóstico

O diagnóstico é outra das questões em destaque no encontro, uma vez que, refere Paulo Bettencourt, “em cerca de um terço das situações, o diagnóstico pode ser complexo. De facto, os sintomas e sinais de insuficiência cardíaca são partilhados por outras doenças, como a doença respiratória crónica, factos que podem dificultar a sua identificação”.

Esta torna-se, por isso, defende o especialista, “o primeiro passo que necessita de ser robusto, para que possamos desenvolver as estratégias de abordagem para identificar a causa e planear o tratamento”.

O facto de cerca de um terço dos doentes com IC também também sofrerem com doença respiratória crónica é outros dos constrangimentos que complica a situação, sendo “absolutamente necessário sensibilizar os médicos para um diagnóstico ’positivo’ de IC. Ou seja, para que possamos realizar o diagnóstico é necessário um conjunto de características clínicas e de demonstração de alterações de estrutura e/ou função cardíaca. A relevância destes aspetos é fulcral para que a estratégia terapêutica seja a mais adequada”.

Até porque, acrescenta, “desde os anos noventa que acumulamos evidência de que podemos aumentar a longevidade e melhorar a qualidade de vida dos doentes com IC. Sendo  a IC uma condição que se autoperpetua e se agrava ao longo da sua evolução, a intervenção em fases precoces e com menos tempo de evolução proporciona ganhos em saúde para os doentes, daí a sua extrema importância”.   

O desafio dos doentes idosos

Tendo em conta que são cada vez mais os doentes com vários problemas em simultâneo, este torna-se “um aspeto desafiante na IC”.

Aqui, os doentes são sobretudo pessoas com mais idade, explica o médico, “padecendo de diversas outras patologias, como DPOC, diabetes, insuficiência renal, anemia, sendo que a maioria tem mais de duas comorbilidades associadas. Estes aspetos levantam problemas específicos a cada doente na sua abordagem, quer no que concerne ao seu percurso, quer na estratégia terapêutica”.

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