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Programa criado na UC tem impacto positivo na depressão pós-parto

depressão pós-parto

O programa de intervenção psicológica online “Be a Mom”, destinado à prevenção da depressão pós-parto e à promoção da saúde mental materna, demonstrou ter impactos positivos na vida das cerca de 1500 mulheres que participaram no estudo destinado a avaliar a sua eficácia.

Desenvolvido por uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC), liderada por Ana Fonseca e Maria Cristina Canavarro, o programa revelou ter impactos positivos na regulação emocional e na autocompaixão em mulheres que apresentavam maior risco para desenvolver depressão pós-parto, reduzindo os sintomas de depressão e ansiedade, tendo também impacto positivo na saúde mental de mães com menor propensão para a depressão pós-parto.

Esta ferramenta de intervenção psicológica “tem como objetivo central reduzir os sintomas depressivos das mulheres depois de se tornarem mães, promovendo a saúde mental materna no pós-parto, uma vez que sabemos que promover a saúde mental nas mães também se reflete positivamente no desenvolvimento e bem-estar da criança”, contextualiza Ana Fonseca, a psicóloga clínica e investigadora da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC) e do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC).

Uma em sete mulheres afetadas pela depressão pós-parto

“Os dados internacionais sugerem que a depressão pós-parto afeta uma em cada sete mulheres e, para responder a este problema de saúde pública, é necessário que existam intervenções efetivas que estejam acessíveis para todas as mulheres e, neste caso, as ferramentas online são de grande importância”, explica a investigadora da Universidade de Coimbra.

Embora algumas mulheres “tenham fatores de risco que as colocam numa posição mais vulnerável para o desenvolvimento de depressão pós-parto, é um problema de saúde mental que pode afetar qualquer mulher durante a maternidade; além disso, mesmo aquelas que não desenvolvem este quadro clínico podem beneficiar de um conjunto de estratégias para promover a sua saúde mental e o seu bem-estar neste período”, explica a também investigadora principal do estudo.

Neste sentido, o projeto envolveu dois grupos: mulheres que apresentavam mais fatores de risco (como ter pouco apoio social, ter história prévia de depressão ou ansiedade, ou ter existido alguma complicação de saúde durante a gravidez/parto ou com o bebé) e mulheres que demonstravam menores fatores de risco para o desenvolvimento de depressão pós-parto.

O primeiro grupo, composto por 1053 mulheres com fatores de risco, foi dividido em dois subgrupos, um integrado por mulheres que utilizaram o “Be a Mom” e outro composto por mulheres que não fizeram uso do programa (grupo de controlo).

As 542 utilizadoras do programa “apresentaram uma redução significativa de sintomas de ansiedade e de depressão durante e após a utilização do programa, bem como uma melhoria significativa na sua capacidade de regulação emocional, na flexibilidade psicológica e na autocompaixão – estes são processos psicológicos importantes cuja promoção se associou à redução dos sintomas de depressão e ansiedade neste grupo”, destaca Ana Fonseca.

Quanto às 511 mulheres que não utilizaram o “Be a Mom”, “as mudanças da sintomatologia depressiva foram pequenas ou, em alguns casos, inexistentes, tendo revelado apenas melhorias na autocompaixão, embora cerca de cinco vezes menos quando comparado com as utilizadoras do “Be a Mom””, avança a investigadora.

No grupo composto por mulheres com menos fatores de risco para a depressão pós-parto participaram 367 mulheres e foram também divididas em subgrupos de utilizadoras e de não utilizadoras do “Be a Mom”. No caso das utilizadoras, “191 reportaram um grande aumento na saúde mental positiva (entendida como bem-estar psicológico e social, satisfação com a vida)», enquanto que apenas 9% das participantes que não usaram o programa apresentaram melhorias na saúde mental”, elucida Ana Fonseca.

Na avaliação feita pelas participantes que utilizaram o programa, foi possível constatar que “85% das participantes recomendariam o programa a outras mulheres e que 76,5% das mulheres voltaria a utilizar o “Be a Mom”, se necessário”, acrescenta a psicóloga clínica.

O “Be a Mom” (https://beamom.pt/) é um programa autoguiado, composto por cinco módulos (mudanças na maternidade e emoções; pensamentos; valores e relações com os outros; relação de casal; sinais de alerta e balanço final) e conta também com informação psicoeducativa em diferentes formatos e com exercícios personalizados.

Em 2021, uma empresa dos Estados Unidos na área da saúde digital (a Curio Digital Therapeutics) fez um acordo de licenciamento com a Universidade de Coimbra, “tendo adaptado o conteúdo do programa “Be a Mom” para comercialização nos EUA, o que demonstra também o impacto dos resultados alcançados neste projeto”, destaca Ana Fonseca.

Na próxima sexta-feira, dia 10 de março, entre as 09h30 e as 13h30, vai decorrer o encontro final do projeto para a apresentação e discussão dos principais resultados do programa “Be a Mom”.

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