A equipa de nefrologia de intervenção do Hospital Garcia de Orta (HGO), da ULS Almada-Seixal, realizou um procedimento inédito em Portugal, que permite criar mais uma opção de acesso vascular para hemodiálise, poupando território vascular aos doentes e de uma forma menos invasiva.
“Além da inovação tecnológica, este processo tem a mais-valia de poder ser o 2.º acesso do doente na escala de acessos vasculares. Com esta técnica cria-se uma nova opção e menos invasiva. Estamos a poupar vasos ao doente, o que é muito positivo”, sublinha Carlos Oliveira, membro da equipa de nefrologia de intervenção da ULSAS.
“Ser minimamente invasivo é a primeira vantagem deste procedimento”, refere o nefrologista, destacando, mais à frente, “a vantagem estética de não deixar cicatriz”.
Em causa está um procedimento endovascular realizado sem cirurgia, em que é introduzido um cateter numa artéria e outro numa veia do antebraço do doente e, através de um dispositivo de radiofrequência, que funciona como um bisturi elétrico, é feita uma fístula, juntando uma artéria e uma veia, através dos dois cateteres.
Nos acessos vasculares para hemodiálise, a cirurgia mais simples e mais recomendada é a do punho, que é o primeiro acesso do doente, como sublinha o nefrologista Pedro Bravo, que realizou este primeiro procedimento. Quando este acesso falha avança-se para uma localização superior, mais proximal.
“É mais uma opção e mais uma alternativa ao que já tínhamos. Nem todos vão precisar porque a opção do punho continua a ser a primeira e melhor opção. Aqueles que já fizeram tentativa e não resultou ou que não têm vasos que permitam a construção de um aceso no punho, e que até agora passavam para o braço, agora têm esta opção. Mas isto implica um mapeamento e um estudo prévios da vasculatura do braço para perceber se são elegíveis anatomicamente”, explica Pedro Bravo.
Técnica para hemodiálise realizada desde 2019
Os doentes que fazem hemodiálise são doentes crónicos, pelo que se começa pela opção mais longe do coração possível. “Além de ser um método minimamente invasivo, passamos a ter opção de usar uma zona que cirurgicamente não está tão acessível”, complementa o nefrologista.
A técnica é realizada nos EUA e no Canadá desde 2019, e, de acordo com o nefrologista Carlos Oliveira, há 1.300 casos na Europa, sendo este o primeiro a nível nacional com este dispositivo.
Esteve presente no procedimento realizado em Portugal a equipa de nefrologia de intervenção da ULSAS, com o nefrologista Pedro Bravo, em conjunto com o radiologista de intervenção espanhol Iñigo Insausti (Universidade Navarra e Pamplona). Marcaram presença, também, enfermeiros, um técnico de radiologia, e um anestesista, bem como um elemento da cirurgia vascular. Os cirurgiões vasculares são os primeiros a ver os doentes e a fazer o estudo para o acesso, pelo que “é de todo o interesse que haja uma colaboração próxima entre nefrologia e cirurgia vascular”, sublinha Pedro Bravo.
De Espanha veio ainda um técnico dedicado a este tipo de acessos (com experiência no estudo e seleção dos doentes e do local para fazer a fístula) que deu apoio na seleção do doente.
“Quando um doente tem uma doença renal crónica, as guidelines estabelecem um plano de vida do doente que integra o início da terapêutica dialítica (hemodiálise, diálise peritoneal, transplantação renal). No doente que comece por fazer hemodiálise, podemos fazer um plano de vida do acesso vascular. O passo agora é integrar este acesso neste plano de vida. É mais uma etapa que temos no plano de vida do acesso”, remata Carlos Oliveira.