É um hábito comum entre os adolescentes, mas com consequências: está diretamente associado ao aumento da circunferência da cintura e do índice de massa corporal nesta faixa etária. Começar o dia sem o pequeno-almoço pode levar a uma dieta desequilibrada e outros comportamentos inadequados, tornando os adolescentes vulneráveis ao ganho de peso.
A prova está num artigo publicado na Scientific Reports, realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), no Brasil e colegas de instituições europeias, que avaliaram comportamentos que ditam o ganho de peso em adolescentes.
“Descobrimos que saltar o pequeno-almoço está associado a marcadores de adiposidade em adolescentes, independentemente de onde moram e quanto dormem, ou se são do sexo masculino ou feminino”, diz a propósito a epidemiologista Elsie Forkert.
“Ao ignorar o pequeno-almoço, milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo estão provavelmente a substituir uma refeição caseira mais saudável, que inclui produtos lácteos, cereais integrais e frutas, por fast food consumida a a caminho da escola, ou na própria escola.”
De acordo com a investigadora, “isso normalmente significa consumir alimentos hipercalóricos industrializados de baixo valor nutricional, como salgados, fritos, refrigerantes e outras bebidas açucaradas, diretamente associadas ao desenvolvimento da obesidade”.
Pequeno-almoço e obesidade, relação perigosa
Inserido na investigação de pós-doutoramento de Elsie Forkert, com a colaboração de investigadores da Áustria, Bélgica, Alemanha, Grécia, Itália e Espanha, o trabalho analisou os dados de duas grandes investigações realizadas na Europa e no Brasil e avaliou a associação entre comportamentos associados ao balanço de energia na adolescência e marcadores de adiposidade total e abdominal.
“Os comportamentos relacionados com o equilíbrio energético foram medidos através de um questionário que cobriu os níveis de atividade física na escola ou em casa, durante o lazer ou as deslocações, etc. Aproximadamente 60 minutos ou mais por dia de atividade física moderada a vigorosa foram considerados adequados”, refere Forkert.
Quanto aos comportamentos sedentários, estes foram analisados em termos do tempo habitual de ecrã (televisão, computador, jogos de vídeo), tendo sido pedido aos participantes que especificassem quantas horas costumavam dormir nos dias úteis e aos finais de semana.
Um questionário separado foi aplicado para explorar atitudes e preocupações em relação a escolhas alimentares, preferências, hábitos alimentares saudáveis e estilo de vida, que incluiu uma pergunta específica sobre o pequeno-almoço. Aqui, foi pedido que dessem a sua opinião (concordassem ou discordassem, numa escala de 1 a 7) em relação à declaração “Salto frequentemente o pequeno-almoço”.
Os cientistas usaram esses dados para investigar se os adolescentes que o faziam tinham em média mais marcadores de adiposidade do que os restantes.
“Entre todos os comportamentos relacionados com o balanço de energia analisados, a correlação mais forte foi entre saltar o pequeno-almoço e os níveis médios aumentados de marcadores de obesidade”, refere Forkert.
Risco semelhante para rapazes e raparigas
Os dados dos inquéritos europeus e brasileiros mostraram que os adolescentes do sexo masculino eram, em média, mais pesados e mais altos e tinham circunferências de cintura maiores que os do sexo feminino.
“Para os rapazes que saltaram o pequeno-almoço, a circunferência da cintura foi, em média, 2,61 cm maior na Europa e 2,13 cm maior no Brasil do que nos que geralmente comiam”, refere Forkert. E maior foi também o índice de massa corporal médio.
“O mesmo aconteceu com as raparigas europeias. O pequeno-almoço estava relacionado positivamente com a obesidade total e abdominal, mesmo quando o tempo de sono era adequado.”
Em Portugal, a obesidade infantil continua a ser uma preocupação, apesar de, de acordo com os dados mais recentes, entre 2008 e 2019, a prevalência de excesso de peso infantil ter caído de 37,9% para 29,6% e a de obesidade de 15,3% para 12,0%, um valor que fez o país melhorar na tabela dos estados europeus que participam no ‘Childhood Obesity Surveillance Initiative’.