Se não fuma, saiba que já não é preciso estar ao pé de alguém com o hábito para ser fumador passivo. Um novo estudo revela agora que os fumadores podem transportar compostos perigosos presentes no fumo do cigarro, que ficam agarrados aos corpos e roupas e, em seguida, libertá-los em ambientes sem fumo, expondo as pessoas mais próximas aos efeitos adversos dos cigarros.
De acordo com o trabalho de uma equipa de investigadores liderada por Drew Gentner, da Universidade de Yale, mesmo que alguém esteja numa sala onde ninguém fumou, essa pessoa poder ser exposta a muitos dos compostos químicos perigosos que compõem o fumo do cigarro.
Publicado na revista Science Advances, o estudo mostra que, “no mundo real, foram encontradas emissões concentradas de gases perigosos em grupos de pessoas previamente expostas ao fumo do tabaco, quando entram num local para não fumadores,”, afirma Gentner, professor associado de química e Engenharia Ambiental.
Ou seja, “as pessoas transportam contaminantes do fumo passivo para outros ambientes. Portanto, só porque não está diretamente exposta ao fumo passivo, a pessoa não está protegida contra os possíveis efeitos do fumo do cigarro na saúde”.
Compostos perigosos dos cigarros
Através de instrumentos específicos, os investigadores analisaram milhares de compostos presentes numa sala de cinema, como gases ou partículas, ao longo de uma semana.
E encontraram uma gama diversificada de compostos orgânicos voláteis presentes no fumo do tabaco, que aumentou dramaticamente quando certas audiências chegaram ao cinema.
Esses aumentos foram menores nos filmes para crianças e maiores nos destinados aos adultos, que incluíam espetadores com maior probabilidade de fumar ou de serem expostos ao tabaco, que libertavam consistentemente quantidades muito maiores desses compostos.
“Apesar das regulamentações que impedem as pessoas de fumar em espaços interiores, os produtos químicos perigosos dos cigarros continuam a entrar dentro de casa”, refere Roger Sheu, principal autor do estudo.
Produtos químicos perigosos e reativos, cuja quantidade, garantem os investigadores, não é pequena. Ou seja, as emissões de gases revelaram-se iguais às produzidas pelo fumo passivo de um a 10 cigarros no período de uma hora.
Essas emissões e concentrações de ar atingiram o pico na entrada do público na sala e diminuíram com o tempo, mas não completamente, mesmo quando as pessoas deixaram a sala. Em muitos casos, a contaminação foi persistente e observável nos dias seguintes. Algo que acontece porque, dizem os especialistas, os produtos químicos não permanecem totalmente no ar, concentrando-se em várias superfícies e móveis.
“Notamos que a nicotina era o composto mais proeminente, de longe”, refere Jenna Ditto, coautora do estudo.
Resultados que, acrescenta, ajudam a explicar porque é que estudos anteriores encontraram quantidades notáveis de nicotina nas superfícies em vários ambientes para não fumadores.