Mais de 570.000 adultos vivem com asma em Portugal, doença que tem uma prevalência de 7,1%, valor próximo, embora ligeiramente superior ao verificado na última publicação sobre este tema, que data de 2012 e tinha encontrado uma prevalência de 6,8% na população geral (adultos e crianças). Destes milhares de pessoas, quase sete em cada 10 (68%) não têm a doença controlada, mostram os dados do EPI-ASTHMA.
Desenvolvido em colaboração pelo Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, o Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS), da Universidade do Minho, e a AstraZeneca Portugal, cujos dados são hoje, 30 de abril, apresentados num evento, no auditório do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), o estudo mostra ainda que 1/3 dos doentes asmáticos identificados não tinham o diagnóstico registado no processo clínico, o que reforça a necessidade de maior rigor no registo da informação clínica.
Destes doentes, 70% não tiveram tratamento prescrito nos últimos 12 meses. Além disso, 23% dos adultos que vive com asma em Portugal não tinha um diagnóstico prévio, demonstrando a necessidade de medidas para melhorar o acesso ao diagnóstico e acompanhamento da doença.
No que diz respeito aos dados da prevalência, Jaime Correia de Sousa e João Fonseca, investigadores principais do estudo e membros da Comissão Científico-Estratégica deste trabalho, confirmam que há vários fatores de risco evitáveis conhecidos que a podem justificar, “entre os quais a má qualidade do ar interior (p. ex. bolores, humidade, exposição a fumo de tabaco ou lareiras) e exterior (p. ex. poluição atmosférica), existindo algumas zonas do País com pior qualidade do ar que têm risco aumentado de asma”.
Já em relação ao facto de 68% dos que têm asma não terem a doença controlada, os especialistas explicam que são vários os fatores de controlo insuficiente da asma. “O principal tem a ver com a literacia em saúde respiratória. Infelizmente, a asma ainda é vista por muitas pessoas como uma doença episódica que só precisará de tratamento quando há sintomas e nós sabemos que não é assim e que, numa percentagem considerável de situações, precisará de medicação continuada, pelo menos a maior parte do ano. Por essa razão, muitas pessoas com asma apenas recorrem ao uso de medicação de alívio quando tem sintomas e não está disponível para usar medicação anti-inflamatória de controlo de forma continuada.”
Formação sobre asma precisa-se
Outros dos fatores destacados pelos investigadores, que ajudam a explicar este número são, “do ponto de vista da pessoa com asma, a insuficiente adesão à medicação, as falhas na medicação, os erros na técnica de utilização dos inaladores e custos associados à medicação; do ponto de vista dos serviços de saúde, o insuficiente acompanhamento pelas equipas de saúde em termos de frequência e periodicidade das consultas com os médicos ou enfermeiros e menor atenção dos profissionais em relação aos programas de seguimento das doenças respiratórias, sobretudo devido a sobrecarga de trabalho e à multiplicidade de tarefas e de outras doenças e problemas de saúde em vigilância”.
Para os especialistas, “é essencial continuar a investir e melhorar os programas de vigilância e controlo das doenças respiratórias já existentes, melhorar o acesso a exames de proximidade, nomeadamente a espirometria, desenvolver sistemas de registo clínico específicos para as doenças respiratórias nos programas informáticos dos profissionais de saúde, aumentar a formação sobre asma para todos os profissionais e promover a literacia em saúde respiratória da população”.