O medo de ter outro ataque cardíaco é um grande motivador de stress contínuo para os sobreviventes de enfartes, revela um estudo preliminar, a apresentado nas Sessões Científicas de 2024 da American Heart Association.
Embora seja amplamente reconhecido que os sobreviventes de ataques cardíacos podem sofrer de depressão ou ansiedade, tem sido dada menos atenção ao impacto do stress psicológico e à forma como o medo de outro ataque cardíaco pode afetar a recuperação mental e emocional dos doentes.
“Queríamos perceber o que os sobreviventes pensam sobre a possibilidade de outro ataque cardíaco. Examinámos sobretudo como os dados demográficos, os comportamentos de saúde e as perceções dos doentes sobre a sua doença previram tanto o medo de ter outro ataque cardíaco como as perceções do seu stress atual”, afirma a autora principal deste estudo, Sarah Zvonar.
Os investigadores recrutaram, entre 2021 e 2022, voluntários para o estudo, pessoas que sofreram um ataque cardíaco. Os que responderam foram direcionados para um novo grupo e convidados a responder a questionários padrão para avaliar o seu grau de medo, fornecendo ainda detalhes demográficos e informações sobre os seus comportamentos atuais relacionados com a saúde cardiovascular.
Ao todo, foram avaliados dados de 171 sobreviventes de enfarte que preencheram os questionários duas vezes, com um intervalo de seis semanas (aproximadamente seis e oito meses após o enfarte). E confirmou-se que o medo de sofrer outro enfarte afetou significativamente a perceção da doença e o nível de stress percebido pela pessoa.
De acordo com os resultados, o medo de ter outro ataque cardíaco foi significativo seis meses após o enfarte o e mantinha-se assim oito meses depois.
O controlo da depressão e da ansiedade não reduziu o impacto do medo da recorrência na perceção da doença ou no stress percebido e embora o consumo médio de álcool tenha sido baixo entre todos os participantes, aqueles que consumiram mais pareciam tinha níveis de medi e de stress superiores.
“Os cuidados de saúde centram-se muitas vezes apenas na ansiedade e na depressão, e o tratamento pode incluir antidepressivos, omitindo uma questão importante: os doentes podem ter medo de ter outro ataque cardíaco por outro motivo”, refere Zvonar.
“Por exemplo, há muitas informações novas sobre saúde que devem processar após um primeiro ataque cardíaco, seja para melhorar a sua dieta, exercício, cuidados de acompanhamento, reabilitação cardíaca, etc. Além disso, descobrimos que o medo da recorrência não diminuiu entre seis e oito meses após o ataque cardíaco, indicando que as pessoas podem precisar de acompanhamento a longo prazo e apoio à sua saúde mental.”
Medo de ataque cardíaco pode ser fator de risco
O estudo tem várias limitações. Os resultados deste grupo de jovens sobreviventes de enfarte, cuja idade média era inferior a 40 anos, podem não se aplicar aos sobreviventes mais velhos.
Além disso, como o estudo foi realizado durante a pandemia de COVID-19, via Facebook, muitos detalhes clínicos (como a gravidade do ataque cardíaco e o uso de medicamentos) não puderam ser recolhidos e verificados. Isto significa que alguns fatores de saúde adicionais que poderiam influenciar o bem-estar psicológico e o medo de recorrência não puderam ser analisados.
“O estudo tem de ser replicado, com recolha de dados médicos; no entanto, é muito provável que os resultados sejam semelhantes”, acredita Zvonar.
“Embora preliminares e baseados numa pequena amostra de jovens, os resultados deste estudo são dignos de nota”, confirma Glenn N. Levine, professor de Medicina no Baylor College of Medicine e presidente da declaração científica de 2021 da American Heart Association.
“Enquanto profissionais de saúde, é importante considerar tanto a doença como a pessoa. Este estudo sugere que não devemos apenas considerar fatores psicológicos, como a depressão e o stress após um ataque cardíaco, mas também reconhecer que muitas pessoas podem ter um medo genuíno de ter outro ataque cardíaco, o que também pode ter um impacto negativo na sua saúde psicológica. Uma vez que a má saúde psicológica aumenta o risco de futuros problemas cardíacos, este medo pode, até certo ponto, tornar-se uma profecia auto-realizável em algumas pessoas”, acrescenta.