Ao longo dos próximos quatro anos, um consórcio de investigação europeu, liderado pela Universidade de Coimbra (UC), vai desenvolver uma tecnologia inovadora que pode vir a potenciar a regeneração as células do cérebro, os neurónios, em doenças que, atualmente, têm opções terapêuticas limitadas.
Para tal, os cientistas vão usar ferramentas epigenéticas para procurar converter células do cérebro de doentes em neurónios funcionais. Esta investigação pode abrir caminho para melhorar o tratamento de problemas de saúde como o Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou doenças neurodegenerativas (patologias que estão ligadas ao sistema nervoso, afetando os movimentos e causando perda de funções neurológicas).
O projeto de investigação REGENERAR: Improving the Effectiveness and Safety of Epigenetic Editing in Brain Regeneration, liderado pelo investigador da Faculdade de Medicina da UC, do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (CNC-UC) e do laboratório associado Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CIBB), Lino Ferreira, vai ser financiado com cerca de três milhões de euros pela Comissão Europeia, mais concretamente pelo Conselho Europeu de Inovação no âmbito do programa Pathfinder Open, que financia projetos interdisciplinares que abram portas a avanços tecnológicos inovadores.
Em linhas gerais, o REGENERAR pretende usar ferramentas epigenéticas, processo que passa, no fundo, por usar o que o corpo humano já tem, mexendo em células que aumentaram em número depois do processo de doença, e transformando-as em células neuronais muito importantes para a função cerebral.
No caso das patologias em foco nesta investigação, Lino Ferreira explica que “o sistema nervoso central tem uma capacidade mínima de autorreparação, sendo necessário criar alternativas que permitam substituir neurónios perdidos em consequência da lesão, como acontece, por exemplo, no AVC ou em doenças neurodegenerativas”.
Melhorar os resultados em doenças com impacto no cérebro
Para o AVC – que afeta, anualmente, mais de 15 milhões de pessoas em todo o mundo, e que coloca frequentemente limitações significativas em atividades do dia a dia como andar ou falar –, por exemplo, “os tratamentos atuais têm-se centrado no restabelecimento do fluxo sanguíneo para minimizar os danos nos tecidos, não existindo tratamentos farmacológicos aprovados que promovam a reparação do cérebro”, elucida o líder da investigação.
Assim, reconhecendo estas limitações terapêuticas, este consórcio europeu espera conseguir abrir um novo caminho para o tratamento do AVC e de patologias neurodegenerativas ao conceber uma formulação de nanopartícula em laboratório que possa, no futuro, chegar à prática clínica.
“Este projeto nasce da vasta experiência da UC, e em particular do grupo de Terapias Avançadas afiliado com a Faculdade de Medicina e com o CNC-UC/CIBB, no desenvolvimento de formulações avançadas para o tratamento de doenças do cérebro”, destaca o investigador da Universidade de Coimbra.
No âmbito deste projeto, a equipa vai conduzir vários “testes de segurança rigorosos, utilizando modelos avançados in vitro (ensaios fora de organismos vivos), bem como estudos toxicológicos in vivo, em conformidade com as boas práticas laboratoriais, para analisar a eficácia da reprogramação epigenética para utilização clínica”, avança Lino Ferreira. Os cientistas esperam que esta nova tecnologia possa estar validada em laboratório em fevereiro de 2028.
A Universidade de Coimbra tem como parceiras neste projeto cinco entidades académicas e industriais: o Centro Helmholtz de Munique (Alemanha), o Instituto Fraunhofer para a Toxicologia e Medicina Experimental (Alemanha), a empresa Single Technologies AB (Suécia), a empresa farmacêutica Hovione Farmaciência SA (Portugal) e a Sociedade Portuguesa de Inovação (Portugal). Paralelamente, entidades nacionais e europeias da área da saúde e associações de doentes serão também envolvidas no projeto, para criar uma estratégia para a futura translação desta tecnologia inovadora para a prática clínica.
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