Ainda não está disponível, mas já deu provas de sucesso: um novo teste para detetar o cancro do colo do útero foi capaz de identificar todos os casos da doença num estudo feito com 15.744 mulheres, tendo sido mais eficaz que o atual exame do Papanicolau e que o teste ao papilomavírus humano (HPV).
O trabalho foi realizado pela Queen Mary University of London e teve como resultado um estudo, que comparou o novo teste baseado em epigenética aos já existentes.
Attila Lorincz, principal autor do estudo, investigador da Queen Mary University of London, e um dos nomes por detrás do primeiro teste do mundo para o HPV, criado em 1988, considera que este é “um enorme desenvolvimento”.
“Não só ficamos impressionados com a forma como este teste deteta o cancro do colo do útero, mas é a primeira vez que alguém provou o papel fundamental da epigenética no desenvolvimento de um tumor sólido, com dados de pacientes na prática clínica. São as alterações epigenéticas que este teste deteta e é exatamente por isso que funciona tão bem”, acrescenta.
Uma maior eficácia
O rastreio para prevenir o cancro do colo do útero é feito tipicamente através do exame de Papanicolau, que envolve a recolha, coloração e exame microscópico das células do colo do útero. Um exame que pode detetar apenas cerca de 50% dos pré-cancros do colo do útero.
Um método de triagem cervical muito mais preciso envolve o teste da presença de DNA do papilomavírus humano (HPV) – a causa primária, mas indireta, deste tipo de cancro.
No entanto, o teste do HPV só identifica se as mulheres estão ou não infetadas com um HPV causador de cancro, mas não os riscos reais de virem a sofrer da doença, que permanecem bastante baixos.
Isso causa preocupação desnecessária para a maioria das mulheres infetadas pelo HPV que recebem um resultado positivo, mas acabarão por eliminar o vírus e não desenvolver a doença.
O novo teste é significativamente melhor do que o exame do Papanicolau ou o teste de HPV, uma vez que detetou 100% dos oito cancros invasivos do colo do útero que se desenvolveram nas 15.744 mulheres durante o estudo. Em comparação, o Papanicolau identificou apenas 25% dos casos e o teste de HPV 50%.
“Um grande avanço”
Attila Lorincz não tem dúvidas que este “é realmente um grande avanço na forma como se lida com mulheres e homens infetados pelo HPV, que somam milhões em todo o mundo, e isso vai revolucionar a triagem”.
“Ficamos surpreendidos com o quão bem este novo teste pode identificar e prever com antecedência casos de cancro do colo do útero, com 100% dos tumores detetados, incluindo adenocarcinomas, que são um tipo muito difícil de detetar.”
Apesar de, referem os autores do trabalho, o seu uso na prática clínica poder reduzir o número de visitas ao médico e as consultas de triagem, pode demorar “pelo menos cinco anos” até que este novo teste venha a estar disponível.