Algumas clínicas privadas de fertilidade começaram a vender um teste de pontuações de risco poligénico em embriões aos futuros pais, uma prática que levanta muitas preocupações, alerta a Sociedade Europeia de Genética Humana (SEGH). Num artigo publicado no European Journal of Human Genetics, garante não haver evidências de que estas análises possam prever a probabilidade de crianças ainda não nascidas serem suscetíveis a uma doença específica no futuro.
Embora seja bastante normal que os pais considerem quaisquer riscos genéticos que possam passar aos seus filhos, isso costuma ser feito através de um teste genético para a síndrome de Down ou fibrose quística, doenças que têm uma única causa genética, sendo grande a probabilidade de deteção do risco nos fetos.
“O teste de pontuações de risco poligénico é uma questão completamente diferente”, refere Francesca Forzano, presidente do Comité de Políticas Públicas e Profissionais da SEGH.
Trata-se de um teste genético que fornece a cada embrião uma pontuação de risco – uma estimativa das probabilidades de desenvolver uma doença específica. Depois de examinar as pontuações, os pais podem selecionar o embrião que desejam implantar.
“Muitas doenças são causadas por uma combinação de genética e ambiente, e as análises de pontuações de risco poligénico só são capazes de capturar partes de um qualquer componente genético relevante, que provavelmente é altamente complexo e difícil de analisar. Além disso, embora possam identificar indivíduos em risco de uma determinada doença na população geral (onde a variabilidade genética é muito ampla), não há evidências de que possam ser úteis para um casal na determinação da escolha de um embrião em detrimento de outro, pois a variabilidade genética dentro de uma família individual é limitada”, acrescenta.
Além disso, os estudos feitos sobre o teste de pontuações de risco poligénico foram realizados e estão em andamento em indivíduos, sobretudo adultos, com o objetivo de decifrar os mecanismos patológicos subjacentes a doenças multifatoriais complexas.
Nenhuma informação sobre o valor das análises de pontuações de risco poligénico para prever o desenvolvimento da doença na vida pós-natal está disponível para os embriões. Na verdade, tais estudos seriam quase impossíveis de realizar nos embriões, uma vez que se pode ter de esperar décadas para que o distúrbio previsto apareça – ou não.
Atualmente, realizar um teste de pontuações de risco poligénico para seleção de embriões seria, na melhor das hipóteses, prematuro, dizem os autores. Informações adequadas e imparciais sobre os riscos e limitações desta prática devem ser fornecidas aos futuros pais e ao público, e deve realizar-se um debate social antes de qualquer potencial aplicação da técnica na seleção de embriões.
Tal debate deve concentrar-se sobretudo no que seria considerado aceitável em relação à seleção de características individuais, uma vez que, sem o devido envolvimento e supervisão pública, a prática de implementação de testes de pontuações de risco poligénico para seleção de embriões poderia facilmente levar à discriminação e estigmatização de certas condições.
“É também essencial fornecer aos futuros pais uma compreensão clara da diferença entre aconselhamento e marketing”, refere o professor Maurizio Genuardi, presidente da SEGH.
“E, numa altura em que os recursos de saúde estão sob pressão, é importante que o dinheiro disponível, limitado, seja gasto em testes conhecidos por serem eficazes. Atualmente, os recursos de investigação seriam mais bem gastos na melhoria do conhecimento sobre como o teste de pontuações de risco poligénico interage com o ambiente em que vivemos, e não na aplicação prematura aos nossos futuros filhos de um teste avaliado inadequadamente, com resultados potencialmente enganosos.”