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O impacto da hipertensão na principal causa de morte em Portugal: o AVC

enfermagem de reabilitação

Neste Dia Mundial da Hipertensão, Fernando Pinto, cardiologista e membro da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa do AVC, fala um pouco sobre o impacto da hipertensão no AVC que, em 2020, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, roubou a vida a 11.439 pessoas, tornando-se a principal causa de morte em Portugal.

Fernando Pinto, membro da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa do AVC
Fernando Pinto, membro da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa do AVC, fala sobre o impacto da hipertensão no AVC

As doenças cardio-cerebrovasculares são a principal causa de morte, de morte prematura (isto é, antes dos 70 anos) e de incapacidade em todo o mundo. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) e o enfarte agudo do miocárdio constituem cerca de 85% de todas as doenças cardio-cerebrovasculares.

No nosso país, estas doenças são responsáveis por mais de 32.000 mortes por ano e calcula-se que possam reduzir em 12-14 anos a esperança de vida. Adicionalmente, são responsáveis por um elevado número internamentos hospitalares e são uma das mais importantes causas de incapacidade e de dependência de terceiros para as atividades básicas do dia a dia (comer, vestir, higiene pessoal, etc).

A hipertensão arterial, definida como pressão arterial maior ou igual a 140/90 mmHg, é de longe o principal fator de risco para o AVC (a principal causa de morte em Portugal: cerca de 2/3 de todas as mortes por doenças cardio-cerebrovasculares) e é um dos mais importantes fatores de risco para enfarte agudo do miocárdio, para insuficiência cardíaca, insuficiência renal, doença arterial periférica, demência, etc.

Na grande maioria dos doentes, a hipertensão arterial não provoca sintomas específicos durante muitos anos, sendo muitas vezes descoberta apenas quando surgem as doenças acima referidas e está bem demonstrado que o diagnóstico precoce e o tratamento correto e atempado da hipertensão arterial inequivocamente reduzem de forma marcada o risco (e a gravidade) das doenças cardio-cerebrovasculares e das suas terríveis consequências: incapacidade e mortalidade.

Apesar de, particularmente nas duas últimas décadas, termos assistido a uma evolução bastante favorável das doenças cardio-cerebrovasculares em Portugal, continuamos a verificar que cerca de 42% dos adultos tem hipertensão arterial, dos quais quase 25% (1 em cada 4) desconhece a doença e dos diagnosticados também cerca de 25% não estão a tomar medicação, o que explica que menos de metade realmente tenha a sua pressão arterial controlada e só cerca de 12% (1 em cada 8) tenha a sua pressão arterial nos valores ideais.

O que falta fazer?

Para conseguir o objetivo último de aumentar o número de anos de vida e de vida com qualidade, isto é para prevenir as consequências das doenças cardio-cerebrovasculares e principalmente para reduzir o AVC e as suas dramáticas sequelas é crucial diagnosticar mais e melhor a hipertensão arterial e iniciar rapidamente as medidas que levam ao seu tratamento, desde logo a adoção de estilos de vida saudáveis incluindo redução no consumo de sal e de álcool e aumento de vegetais e fruta, a prática de exercício físico regular, a correção de eventual excesso de peso ou obesidade e a cessação tabágica total. Quando estas medidas são insuficientes, poderá ser necessário utilizar também medicamentos anti-hipertensores.

Os dois últimos anos tornaram, em muitos casos, mais difícil o acesso da população aos cuidados de saúde muito focados na pandemia que nos assolou (e ainda aí anda…).

Cabe a todos nós – utentes/doentes, profissionais de saúde e não só – contribuir para recuperar/minimizar este atraso que poderá ter sérias consequências no médio prazo: os primeiros medindo a pressão arterial regularmente (o que pode ser feito em inúmeros locais, mesmo em casa) e, caso seja constatada hipertensão arterial, procurando recorrer com brevidade aos cuidados de saúde, mas começando desde logo a corrigir os estilos de vida desadequados; os profissionais de saúde incentivando ativamente os doentes a vigiarem e pressão arterial, facilitando-lhes o acesso aos seus cuidados e não protelando desnecessariamente a correção da hipertensão arterial (bem como dos eventuais fatores de risco concomitantes).

As sociedades científicas, em parceria com os meios de comunicação social, devem alertar a população geral para a importância destas medidas, cabendo ao poder político e ao estado delinear e implementar as medidas concretas para agilizar esta missão que é possível com o empenho de todos!