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Projeto inovador da UE usa IA e avatares para explorar ligação entre doenças cardiovasculares e défice cognitivo

declínio cognitivo

Cerca de um terço das pessoas que vivem com doenças cardiovasculares têm também défice cognitivo ligeiro, que não é, no entanto, diagnosticado em 50 a 80% destes casos. A associação entre estas duas condições vai para além da mera partilha de fatores de risco, que estão bem estabelecidos, e implica que a própria doença cardiovascular pode contribuir para o défice cognitivo ligeiro, que se refere a uma forma de declínio cognitivo maior do que o normal para a idade e educação de uma pessoa, mas não suficientemente grave para prejudicar a sua função diária. É para descobrir mais sobre estas ligações que arranca agora o DORIAN GRAY.

Trata-se de um novo projeto, financiado pela União Europeia (UE) e liderado pela Universidade de Brescia, em Itália, e parceiros, incluindo a Sociedade Europeia de Cardiologia, que visa identificar a associação entre estas duas doenças.

Com a duração de cinco anos, tem um orçamento de 11 milhões de euros, distribuídos por 24 parceiros, e a sua ambição é descobrir os mecanismos que unem estes dois problemas e desenvolver uma abordagem integrada que vise promover a resiliência e melhorar a saúde geral na população idosa.

Iniciar-se-á pela análise dos dados disponíveis em pessoas com doenças cardiovasculares, como a insuficiência cardíaca, em que são potenciados os mecanismos que levam ao défice cognitivo ligeiro, e posteriormente serão definidos os fatores que agravam o aparecimento e a progressão do défice cognitivo na população geral com fatores de risco cardiovascular.

“Durante anos, a doença de Alzheimer e a demência cerebrovascular foram vistas como entidades separadas. Pesquisas recentes sugerem que podem representar um continuum, com vias sobrepostas a favorecer a deposição de β-amiloide vascular ou parenquimatosa”, explica o coordenador científico da DORIAN GRAY, Riccardo Proietti, da Universidade de Liverpool, Reino Unido.

“As doenças cardiovasculares não só partilham fatores de risco com o défice cognitivo, como também podem contribuir para o mesmo, através de mecanismos como a hipoperfusão crónica, o enfarte e rigidez arterial. No entanto, uma teoria unificadora permanece indefinida devido à falta de biomarcadores fiáveis ​​para o diagnóstico precoce e estratificação de risco em doentes com défice cognitivo ligeiro com doenças cardiovasculares”, explica.

“O objetivo da DORIAN GRAY é desenvolver uma hipótese baseada na neurobiologia que associe o défice cognitivo ligeiro à doença cardiovascular, utilizando biomarcadores de avaliação clínica para informar as políticas de saúde conjunta para a prevenção, ao mesmo tempo que desenvolve uma ferramenta digital inovadora que pode ser utilizada para o melhoramento cognitivo.”

Avatares e exergaming

O projeto integrará dados de mundo real provenientes de diversas fontes (por exemplo, smartwatches, smartphones, tablets) e utilizará inteligência artificial (IA), juntamente com variáveis ​​clínicas para permitir a estratificação de risco e o tratamento personalizado.

Esta abordagem pode ser aplicada à prevenção primária (estratificação do risco de défice cognitivo ligeiro), secundária (abrandamento da progressão para a demência) e à prevenção terciária (redução da gravidade do défice cognitivo ligeiro), o que permitirá, por sua vez, a identificação precoce de padrões ou “impressões digitais” de uma potencial progressão deste défice e introduz uma mudança de paradigma nos cuidados de saúde, aplicável a outras doenças não transmissíveis.

Uma caraterística do projeto é a utilização de um avatar médico, uma tecnologia inovadora com um potencial vasto, mas ainda largamente inexplorado, no domínio dos cuidados de saúde. No DORIAN GRAY, o treino baseado em avatares com exergaming (termo que significa a união das palavras “exercício” e “game” e designa os jogos em que o jogador utiliza o movimento corporal para controlar o que se passa dentro do ecrã) servirá como uma ferramenta de melhoria cognitiva e como uma intervenção no estilo de vida. Em vez de se limitar a oferecer instruções comportamentais explícitas, molda todos os aspetos da vida do utilizador, aumentando de forma abrangente a sua consciência sobre o bem-estar físico e mental, com um impacto positivo no envelhecimento saudável.

Espera-se que DORIAN GRAY tenha um impacto substancial em vários subgrupos da população europeia, incluindo pessoas com doenças cardiovasculares e indivíduos com risco elevado de défice cognitivo ligeiro. Irá atender às necessidades de prevenção primária, secundária ou terciária.

Assumindo que a intervenção, DORIAN GRAY levará a uma redução de 5 a 10% na prevalência de fatores de risco de demência, como diabetes, hipertensão, obesidade, inatividade física, depressão, tabagismo e baixo nível educacional, isso significa que o impacto projetado nos países da UE até 2050 irá traduzir uma redução entre um a dois milhões de casos de demência: uma redução de 5% na prevalência dos fatores de risco resultaria em menos um milhão de casos, enquanto uma redução de 10% evitaria dois milhões.

 

Crédito imagem: iStock