Desde mergulhos matinais no oceano a mergulhos polares gelados, a imersão em água fria é cada vez mais popular entre atletas e adeptos do bem-estar. Mas o que tem a ciência a dizer sobre esta prática? É verdadeiramente benéfica?
A mais abrangente revisão sistemática de estudos do género, feita por investigadores da Universidade do Sul da Austrália (UniSA), quis perceber quais os efeitos da imersão em água fria na saúde e no bem-estar.
Analisando dados de 11 estudos, que contaram com a participação de 3.177 pessoas, os investigadores descobriram que a imersão em água fria pode reduzir o stress, melhorar a qualidade do sono e aumentar a qualidade de vida.
A investigadora da UniSA, Tara Cain, afirma que o estudo revela efeitos que estão dependentes do tempo e diferenciados nas medidas de saúde e bem-estar. “A imersão em água fria tem sido amplamente investigada e utilizada em contextos desportivos para ajudar os atletas a recuperar, mas, apesar da sua crescente popularidade entre os círculos da saúde e do bem-estar, pouco se sabe sobre os seus efeitos na população em geral” , refere Caim.
“Neste estudo, observámos uma série de resultados dependentes do tempo. Em primeiro lugar, descobrimos que a imersão em água fria pode reduzir os níveis de stress, mas apenas durante cerca de 12 horas após a exposição. Notámos também que os participantes que tomaram banhos frios de 20, 60 ou 90 segundos relataram pontuações de qualidade de vida ligeiramente mais elevadas. Mas, mais uma vez, passados três meses, esses efeitos desapareceram”, acrescenta.
“Os benefícios também podem ser obtidos com banhos frios, com um estudo a relatar que os participantes que tomaram banhos frios regularmente tiveram uma redução de 29% nas faltas por doença. Também encontrámos algumas associações entre a imersão em água fria e melhores resultados de sono, mas os dados foram restritos aos homens, pelo que a sua aplicação mais ampla é limitada”, refere.
“Embora tenha havido muitas alegações de que as experiências de imersão em água fria podem aumentar a imunidade e o humor, encontrámos muito pouca evidência para apoiar estas alegações.”
Benefícios da imersão em água fria
A imersão em água fria implica a imersão parcial ou total do corpo em água fria, a temperaturas que variam normalmente entre os 10 e os 15 graus Celsius e, neste estudo, os dados foram incluídos apenas se a exposição fosse igual ou superior ao nível do peito e durante um tempo mínimo de 30 segundos. Incluía chuveiros frios, banhos de gelo e mergulhos em águas frias.
Segundo Ben Singh, co-investigador da UniSA, o estudo também mostrou que a imersão em água fria causou um aumento temporário da inflamação. “À primeira vista, isto parece contraditório, pois sabemos que os banhos de gelo são utilizados regularmente por atletas de elite para reduzir a inflamação e a dor muscular após o exercício”, afirma.
“O pico imediato de inflamação é a reação do corpo ao frio como fator stressante. Ajuda o corpo a adaptar-se e a recuperar e é semelhante à forma como o exercício causa danos musculares antes de os fortalecer, razão pela qual os atletas o utilizam apesar do aumento a curto prazo. Sabendo isto, as pessoas com condições de saúde pré-existentes devem ter um cuidado extra ao participar em experiências de imersão em água fria, uma vez que a inflamação inicial pode ter impactos prejudiciais para a saúde”, alerta o especialista.
Os investigadores dizem ainda que, embora as descobertas destaquem os potenciais benefícios da imersão em água fria, também sublinham a natureza altamente dependente do tempo e do contexto dos seus efeitos. “Quer seja um atleta de elite ou alguém que procura o bem-estar diariamente, é importante compreender os efeitos do que faz ao seu corpo”, afirma Cain.
“Atualmente, não existem pesquisas de alta qualidade suficientes para dizer exatamente quem beneficia mais ou qual é a abordagem ideal para a imersão em água fria. São necessários mais estudos a longo prazo, entre populações mais diversas, para compreender os seus efeitos duradouros e aplicações práticas”, conclui.