Cansaço, dificuldade de concentração e falta de energia: são estes os sintomas que ‘mascaram’ a anemia, uma condição clínica que afeta “entre 5 a 20% das crianças em idade pré-escolar e entre 8 a 20% dos adolescentes”, refere Lino Rosado, hematologista pediátrico. Sob o mote ‘Educar para Prevenir’, o Dia da Anemia, comemorado a 26 de novembro, quer sensibilizar para a incidência da anemia em crianças e adolescentes, bem como nas mulheres em idade fértil.
Nas crianças, a anemia por deficiência de ferro é frequente e “resulta de um crescimento muito rápido, principalmente no primeiro ano de vida, e de uma ingestão inadequada de ferro”, refere o especialista em pediatria, que vai estar presente na Reunião Anual do Anemia Working Group Portugal, a realizar-se, em formato online, nos dias 20, 21, 27 e 28 de novembro e que conta com a presença de especialistas das diversas áreas.
“A prematuridade, o aleitamento materno em exclusivo, sem a ingestão de alimentos ricos em ferro para além dos seis meses de idade, a introdução de leite de vaca inteiro antes do primeiro ano de idade e o consumo excessivo de leite para além desta idade, assim como as restrições dietéticas, como, por exemplo, o vegetarianismo” são as principais causas de deficiência de ferro nas crianças, explica Lino Rosado.
Já a adolescência é um período muito importante de vulnerabilidade nutricional e de necessidades de ferro devido “ao grande crescimento e desenvolvimento muscular. Nesta faixa etária, a mudança de hábitos alimentares, resultante da influência do grupo, e a necessidade de autoafirmação no seio da família” acabam por conduzir à deficiência em ferro”.
Mas não são apenas as crianças as que mais sofrem de anemia. Aliás, em Portugal, estima-se que 20% das mulheres sejam afetadas, valor este que aumenta para os 40% quanto às grávidas.
Em idade reprodutiva, as mulheres “perdem regularmente sangue por intermédio da menstruação e ao engravidar ficam mais sujeitas a sofrer de anemia”, explica João Mairos, especialista em Ginecologia e Obstetrícia e também orador na Reunião Anual do Anemia Working Group Portugal.
Vigilância regular para a anemia
Embora possa ser uma doença primária, a anemia é, geralmente, uma manifestação de outras doenças “que implicam a ocorrência de hemorragias, doenças que impedem a absorção de nutrientes, tais como o ferro, ou doenças do foro oncológico”, refere João Mairos. Mas, envolvidas nas suas obrigações profissionais ou familiares, as mulheres não estão sensibilizadas para o risco de anemia, associando, muitas vezes, os sintomas da doença a outras patologias, como a depressão.
Também a gravidez e o período de amamentação representam um fator de risco, uma vez que “há uma necessidade progressivamente maior de ferro”, tanto para o desenvolvimento do feto e da placenta, na gravidez, como para fornecer o ferro necessário ao bebé através do leite materno, na amamentação.
Assim, tanto para as crianças e adolescentes como para as mulheres, um diagnóstico atempado e um tratamento adequado são essenciais para minimizar as consequências da anemia.
Seja a curto ou a longo prazo, o especialista em pediatria reforça que os efeitos de uma carência em ferro associada, ou não, à anemia são numerosos, podendo afetar “o desenvolvimento neuropsicomotor, a capacidade de aprendizagem, o apetite e o crescimento, além de poder comprometer a resposta do sistema imunológico”. Para a sua prevenção, os pais têm um papel decisivo, mas devem contar com o apoio do médico pediatra.
Já no que respeita às mulheres, é essencial “estar atenta aos sinais e sintomas, manter uma vigilância regular com o seu ginecologista ou com o seu médico de família e investir numa dieta de melhor qualidade”, refere João Mairos.
Desta forma, a visita regular a um médico ginecologista é extremamente importante para detetar e tratar a doença, permitindo “diagnosticar precocemente a existência de doenças ginecológicas causadoras de anemia. Além disso, a prescrição adequada de contraceptivos pode ser uma forma eficaz de prevenir a doença”.