
A artrite reumatoide é uma doença reumática crónica, inflamatória, imunomediada, que se caracteriza pela inflamação das articulações (sobretudo das mãos, punhos, joelhos e pés) e que pode levar à destruição do tecido articular e periarticular, com incapacidade potencialmente elevada. Tratando-se de uma doença sistémica, pode atingir outros órgãos e sistemas, como os pulmões, o coração, os olhos, entre outros.
Segundo José Costa, reumatologista na Unidade Local de Saúde do Alto Minho e Coordenador do Grupo de Estudos da Artrite Reumatoide da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, “a artrite reumatoide não tem uma causa conhecida, mas pensa-se que, nos doentes com esta condição, o sistema imunitário não funcione adequadamente, havendo produtos do sistema imune que reagem contra os tecidos do doente, desencadeando uma reação inflamatória local e sistémica, em todo o organismo”.
Os sintomas mais comuns e que devem levar os doentes a procurar ajuda são a dor e a inflamação articular, que se traduz habitualmente por inchaço, vermelhidão e aumento da temperatura nas articulações afetadas, gerando incapacidade para as mover corretamente, podendo haver uma sensação de rigidez nos movimentos, especialmente nas primeiras horas da manhã.
Apesar da doença não ter cura, se detetada precocemente pode melhorar significativamente o prognóstico dos doentes. O tratamento precoce, através de uma supressão da inflamação nos estágios iniciais da doença, pode resultar em menos incapacidade e sofrimento. Uma correta e atempada identificação de sinais ou sintomas e referenciação para o reumatologista e, por isso, uma peça-chave para um diagnóstico célere e uma rápida implementação de medidas terapêuticas que, comprovadamente, diminuem o impacto da doença, sendo possível, em muitos casos, devolver ao doente uma vida perfeitamente normal.
Apesar de ainda não existir um tratamento único com uma taxa de sucesso absoluta, a artrite reumatoide é um dos campos da reumatologia que tem sido mais estudado nos últimos anos.
“Seja pela sua prevalência, seja pelo impacto que tem, os reumatologistas e a comunidade científica em geral têm desenvolvido diversos estudos com vista a melhorar a abordagem e tratamento desta doença”, confirma José Costa. “Novas classes terapêuticas têm vindo a ser estudadas em ensaios clínicos, desde os fármacos biotecnológicos até novos fármacos de síntese, com mecanismos de ação diferentes e com taxas de sucesso mais relevantes.”
O impacto da artrite reumatoide nos doentes
Laurinda Martins tem 68 anos e é um exemplo de como uma medicação desadequada pode ter um grande impacto negativo na vida da pessoa com artrite reumatoide. Em 2017, foi diagnosticada com a doença e rapidamente teve de enfrentar os sintomas, como perda de mobilidade, dores muito fortes constantes e consequente dificuldade em dormir.
Atualmente, encontra-se acamada, sem tratamento adequado, já que a Comissão de Farmácia e Terapêutica do Hospital não aceita a dispensa do medicamento de que necessita, uma situação que resulta da Portaria 99/2022, que dá a esta mesma comissão uma voz “na avaliação e decisão do protocolo terapêutico a seguir”.
É a A.N.D.A.R – Associação Nacional dos Doentes com Artrite Reumatoide que está a apoiar esta doente na procura de solução para o seu tratamento e que pede a revogação da referida portaria, que determina ser competência da Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica a definição dos critérios de utilização dos medicamentos, sendo esta a decidir sobre a dispensa da medicação.
Laurinda está dependente do marido, que realiza as tarefas do dia a dia, como cozinhar, limpar a casa e levantar a mulher da cama. “Tive cancro em 2020, encontro-me em remissão, mas nunca sofri tanto como sofro com a artrite reumatoide”, refere.
Já Natália Machado, de 69 anos, vive com o diagnóstico de artrite reumatoide há 10 anos, quando teve que alterar a intensidade do seu trabalho devido às limitações da doença. Nas fases mais complicadas, não conseguia mesmo colocar os pés no chão, estender roupa com molas, cozinhar e não conseguia dormir com dores no ombro. Há cerca de dois anos, finalmente conseguiu a medicação adequada que lhe mudou a vida, os sintomas desapareceram e atualmente sente-se como se já não tivesse a doença.