Por vezes, é o próprio sistema imunitário que, quando ocorre uma lesão na espinal medula, causa a paralisia subsequente. Num futuro não muito distante, poderá ser possível evitá-lo, graças a uma injeção de nanopartículas, capaz de impedir que o sistema imunitário reaja exageradamente ao trauma.
O sistema já existe. A chamada EpiPen, dadas as semelhanças com a ‘caneta’ de epinefrina, usada pelas pessoas com alergia grave, está a ser testada em ratos de laboratório, na Universidade do Michigan, EUA, tendo as nanopartículas melhorado a cicatrização, reprogramando as células imunitárias agressivas.
Em qualquer espécie, e os humanos não são exceção, o trauma ativa uma resposta imunitária. No caso de uma lesão normal, as células do sistema imunitário infiltram-se na zona danificada e limpam os detritos para dar início ao processo regenerativo.
Mas uma lesão na espinal medula causa um excesso de zelo nas células imunitárias, o que pode danificar o delicado tecido neural das células do sistema nervoso central. Normalmente, estes tecidos são protegidos por uma membrana. Mas no caso de uma lesão na espinal medula, essa não resiste e as células imunitárias entram.
Resultado: inflamação nos tecidos neurais, que leva à morte rápida dos neurónios, causando danos às bainhas isolantes que se encontram à volta das fibras nervosas e dando origem a cicatrizes que bloqueiam a regeneração das células nervosas da espinal medula.
Tudo isto contribui para a perda da função abaixo do nível da lesão, o que inclui desde paralisia até perda de sensibilidade.
Novas formas de impedir a paralisia em caso de trauma
Não é a primeira vez que se procura compensar as complicações desta resposta imunitária. Tentativas anteriores incluíram o uso de esteroides injetáveis, uma prática descartada tendo em conta as consequências provocadas.
Agora, os cientistas desenharam as nanopartículas para intercetarem as células imunitárias no seu caminho para a medula, redirecionando-as para longe da lesão. E mesmo aquelas que lá conseguem chegar acabam por ser alteradas para se tornarem pró-regenerativas.
O que as nanopartículas fazem é uma reprogramação das células do sistema imunitário, o que acontece sem os efeitos secundários indesejados.
Com menos células imunitárias no local do trauma, há menos inflamação e deterioração dos tecidos. E maior possibilidade destes se regenerarem.
“Espera-se que esta tecnologia possa dar origem a novas estratégias terapêuticas, não apenas para doentes com lesões medulares, mas também para aqueles com várias doenças inflamatórias”, explica Jonghyuck Park, investigadora da Universidade do Michigan.