A poluição do ar é um fator de risco para as doenças cardiovasculares e um dos que mais contribui para a carga global de doenças, tendo sido ainda associada a um risco aumentado de morte por COVID-19. Essa perigosa “tripla ameaça” da poluição do ar – COVID-19 – doenças cardiovasculares deve ser levada a sério, alertam as principais autoridades de saúde.
Quatro organizações – a Federação Mundial do Coração, Colégio Americano de Cardiologia, Associação Americana do Coração e Sociedade Europeia de Cardiologia – divulgaram uma declaração conjunta que insta a comunidade médica e as autoridades de saúde a mitigar o impacto da poluição do ar na saúde das pessoas.
Em 2019, cerca de 6,7 milhões de mortes, ou 12% de todas as mortes em todo o mundo, foram atribuídas à poluição do ar externa ou doméstica, com quase metade a dever-se às doenças cardiovasculares.
A poluição do ar aumenta ainda o risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral, diabetes e doenças respiratórias, que são conhecidos por aumentar o risco de uma pessoa sofrer algumas das consequências mais graves da COVID-19.
“Mesmo antes da pandemia, a poluição do ar era uma questão de preocupação crescente devido ao seu impacto na saúde das pessoas, embora fosse frequentemente negligenciada como um fator de risco para doenças cardiovasculares“, afirma Michael Brauer, presidente do grupo de especialistas em poluição do ar da Federação Mundial do Coração e coautor de a declaração.
“A COVID-19 trouxe um novo fator mortal para a equação, e chegou a hora de a comunidade da saúde se manifestar e agir.”
O que fazer para reduzir o impacto da poluição do ar
O comunicado prevê ações estruturais para reduzir as emissões de poluentes atmosféricos e exposições nocivas, destacando também o papel importante que os profissionais de saúde desempenham na prevenção de doenças relacionadas com a poluição.
Isto inclui a defesa da mitigação da poluição como uma medida de saúde, mais investigação sobre a qualidade do ar e o seu impacto nas doenças cardiovasculares, e intervenções para reduzir a poluição do ar e o seu efeito nas doenças não transmissíveis.
É preciso ainda “fornecer aos doentes medidas pessoais para reduzirem a exposição, como sistemas de filtragem de ar ambiente”, assim como integrar a poluição do ar nas abordagens de gestão de doenças, por exemplo, através do uso de índices de qualidade do ar.
Há que participar no desenvolvimento de diretrizes sobre poluição e doenças cardiovasculares e dar apoio às autoridades na área do ambiente, energia e transporte, naqueles que são os seus esforços de mitigação da poluição.
A educação é essencial, assim como o aumento da consciencialização sobre os benefícios cardiovasculares do ar puro, colaborando com instituições governamentais nacionais, regionais e globais para tornar as doenças cardíacas relacionadas com a poluição do ar uma prioridade.
A declaração será publicada simultaneamente nas principais revistas de todas as quatro organizações: o Journal of the American College of Cardiology, o Journal of the American Heart Association, o European Heart Journal e o Global Heart.
“A poluição é uma das causas mais subestimadas de doenças cardíacas e AVC”, reforça Stephan Achenbach, presidente da Sociedade Europeia de Cardiologia.
“É urgentemente necessário mais trabalho para identificar as populações suscetíveis e determinar os métodos ideais para melhorar a qualidade do ar e beneficiar a saúde cardiovascular. A poluição precisa de ser reconhecida como um importante fator de risco modificável na prevenção e gestão das doenças cardiovasculares, e são urgentes medidas para reduzir a sua influência prejudicial de curto e longo prazo na saúde cardiovascular, potencialmente ao longo de gerações.”