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Mais depressa ou mais devagar: psicólogos dão conselhos sobre como voltar ao mundo pós-COVID

mundo pós-covid

Lentamente, são vários os países que estão a retomar a aparência de alguma normalidade em tempos que ainda são de pandemia. Os restaurantes começam a encher-se e os espetáculos e eventos desportivos a receber fãs e adeptos. No entanto, para algumas pessoas a reentrada no mundo pós-Covid pode ser um pouco assustador. Kevin Larkin, líder do Departamento de Psicologia da West Virginia University, nos EUA, equipara-o a entrar no fundo de uma piscina de água fria: a pessoa pode pôr o dedo do pé na parte rasa e ir em direção a águas mais profundas ou mergulhar de cabeça.

De qualquer forma, é tudo uma questão de habituação, um processo em que a resposta de alguém a um estímulo diminui após a exposição repetida ou prolongada a esse estímulo.

“Se a pessoa começar com o dedo do pé na parte rasa, levará algum tempo habituar-se à temperatura”, afirma Larkin, que ao longo da sua carreira tem cuidado de pessoas com problemas de ansiedade. “Então a pessoa deixa a água subir até o tornozelo. Eventualmente, vai estar no fundo da piscina.”

Ou pode “simplesmente saltar lá para dentro de uma vez por todas. Essa abordagem é mais rápida. A forma gradual é mais lenta, mas é mais confortável do que a outra. Ambas vão funcionar”, garante.

De acordo com um relatório da American Psychological Association, quase 50% dos norte-americanos dizem sentir-se ansiosos por retomar as interações pessoais num mundo pós-covid, uma tendência que os profissionais de saúde chamam de “ansiedade de reentrada”.

Larkin acredita que muita gente, e não só nos EUA, pode hesitar na tomada de decisões em certas situações que, em tempos pré-COVID, normalmente considerariam corriqueiras. Isso inclui comer num restaurante e voar de avião.

Mas quando a pessoa voltar a entrar no avião não vai ser assim tão mau. “É assim que o cérebro funciona.”

Caso contrário, a especialista considera que as pessoas podem aplicar a abordagem “mergulhar o dedo do pé” no novo mundo, começando por caminhar pela vizinhança e fazer a transição para áreas de caminhada mais populosas. Então, poderÕ entrar em restaurantes e lojas.

Na verdade, quando confrontados com as duas opções – o dedo do pé ou o mergulho – a maioria dos doentes de Larkin escolhe o caminho mais lento.

“Essa é uma abordagem de dessensibilização”, explica. “Seguir em frente com pequenos passos ao longo do caminho é eficaz no tratamento da maioria dos tipos de fobias.”

Ansiedade num mundo pós-Covid

Shari Steinman, professora assistente de psicologia clínica, tem evidências que suportam a ideia de que houve uma habituação às mudanças relacionadas com a COVID-19.

No início da pandemia, Steinman investigou os residentes nos Apalaches e a forma como lidaram com a doença ao longo de um período de oito semanas. E descobriu que os participantes se sentiam menos ansiosos e stressados ​​com o passar do tempo, talvez por se habituarem ao isolamento, aos protocolos de segurança e a outros aspetos da pandemia.

“O que vimos é típico da habituação”, afirma. “Habituamo-nos à COVID e à quarentena, e isso tornou-se o novo normal. É provavelmente por isso que observamos uma diminuição na ansiedade e no stresse ao longo do tempo. Quando somos repetidamente expostos a um estímulo gerador de ansiedade, habituamo-nos a ele. Eu colocaria a hipótese de que veremos a mesma coisa com a ansiedade de reentrada. Vai começar por ser assustador, mas com o tempo vamos reconhecer, ‘Eu posso lidar com isso.’”

Atenção aos ataques de pânico

Para aqueles que lutam para se reajustarem, Steinman aconselha dar um tempo, com base nas suas descobertas, e ter noção que sentir algum grau de ansiedade é normal e não perigoso.

E faça o que fizer, não evite inteiramente os desafios, mesmo que isso resulte num ataque de pânico.

“Se eu tiver um ataque de pânico, eu tenho um ataque de pânico”, explica Larkin. “Vou sentir desconforto fisiológico. No entanto, se eu permitir que o ataque de pânico me impeça de viver a vida, isso pode tornar-se um problema.”

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