Um grupo de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC) criou uma formulação inovadora para a entrega de moléculas, que poderá ser muito útil para o tratamento de doenças da pele.
Nos últimos anos têm sido várias as estratégias desenvolvidas para a entrega de fármacos utilizando sequências de ARN não-codificantes – pequenas sequências do código genético humano com papel regulador no organismo –, destinadas ao tratamento de várias doenças da pele.
Estratégias que, no entanto, têm tido grandes dificuldades, tendo em conta o caráter sensível destas moléculas e a dificuldade de entrada nas células da nossa pele.
“Nós pretendíamos desenvolver uma formulação que conseguisse entregar os ARN não-codificantes de maneira mais eficiente”, refere Josephine Blersch, investigadora do CNC-UC e primeira autora do estudo.
“Há uma vasta classe de novas terapias que não têm resultado: primeiro, existem enzimas na nossa pele que degradam o material genético externo; segundo, moléculas tão grandes como esta têm dificuldade em entrar nas células da pele e, para atuarem, têm de ser integradas nas células. É precisa uma ferramenta para tornar esta entrega possível”, acrescenta.
“Outras formulações já aprovadas apresentam grande toxicidade e uma resposta imunológica forte. Portanto, é necessário que a ferramenta seja de rápida absorção e eficácia, sem provocar respostas indesejadas. Deste modo, decidimos desenvolver uma formulação cuja ação fosse sensível à luz, que permite controlo sobre localidade e tempo da entrega do seu princípio ativo”, explica a investigadora.
Esperança de novos tratamentos para doenças da pele
O estudo, publicado na Angewandte Chemie International, uma revista científica alemã na área da química, demonstrou o desenvolvimento de uma plataforma inovadora para a entrega destas sequências, melhor do que as atualmente existentes no mercado.
Para isso, os investigadores procuraram formulações baseadas em nanopartículas que fossem biodegradáveis, orgânicas e que causassem nenhuma ou pouca toxicidade.
Nesse sentido, começaram com o desenvolvimento de uma biblioteca de nanopartículas que contassem com estas características, e que fossem ativáveis pela luz, ou seja, que libertassem o material que transportavam dentro das células, antes de serem expulsas pelas mesmas.
“Identificámos cerca de 160 formulações, cuja ação fosse controlável pela luz. Observámos que seis destas formulações eram bastante mais rápidas e eficientes que grande parte das formulações comercialmente disponíveis”, conta Vítor Francisco, também investigador do CNC e autor do estudo.
Inicialmente, os investigadores testaram estas diferentes formulações em células da pele e observaram que, em modelos animais com lesões agudas na pele, promoviam uma aceleração da cicatrização, comparando com os animais do controlo.
No futuro, pretendem testar estas mesmas formulações noutros contextos de lesões de pele mais graves, uma vez que este material se “apresentou bastante promissor na aplicação local na pele, ou noutros tecidos que seja possível estimular com luz azul. Este tipo de formulações poderá ser bastante útil para o tratamento de lesões graves da pele, associadas a outro tipo de doenças com grande prevalência a nível mundial, como a diabetes do tipo II, psoríase, ou outras doenças do foro inflamatório”, afirma Josephine Blersch.