Um novo estudo publicado na Diabetologia, a revista Associação Europeia para o Estudo da Diabetes, descobriu que os sentimentos de solidão estão associados a um risco significativamente maior de diabetes tipo 2.
A investigação foi realizada por Roger E. Henriksen e os colegas, especialistas da Western Norway University of Applied Sciences e, além de examinar a associação entre a solidão e o risco de desenvolver diabetes tipo 2, analisou se a depressão e a insónia desempenham também aqui um papel.
Há um crescente corpo de pesquisa que aponta para uma ligação entre o stress psicológico e o risco de um indivíduo desenvolver diabetes tipo 2. E a solidão cria um estado de angústia crónico, por vezes duradouro, que pode ativar a resposta fisiológica do corpo ao stress. Embora os mecanismos exatos não sejam totalmente compreendidos, acredita-se que essa resposta desempenhe um papel central no desenvolvimento da doença, através de mecanismos como a resistência temporária à insulina provocada por níveis elevados da hormona do stress, o cortisol.
Este processo envolve também alterações na regulação do comportamento alimentar pelo cérebro, causando um aumento do apetite por hidratos de carbono e consequente elevação dos níveis de açúcar no sangue.
Diabetes e solidão, a relação improvável
Das 24.024 pessoas que participaram no estudo, 1.179 (4,9%) desenvolveram diabetes tipo 2. Tratavam-se de pessoas que eram mais propensas a serem homens (59% vs 44%), com uma idade média maior (48 anos vs 43 anos) do que aqueles sem a doença, com maior probabilidade de serem casados (73% vs 68%) e de terem um nível de escolaridade menor (35% vs 23%).
O estudo descobriu ainda que os níveis mais altos de solidão no início do estudo estavam fortemente associados a um maior risco de diabetes tipo 2 quando medidos 20 anos depois. Ou seja, os participantes que responderam “muito” quando questionados sobre se se sentiam solitários tinham duas vezes maior risco de diabetes tipo 2 do que aqueles que não se sentiam solitários.
Embora este estudo não tenha examinado os mecanismos exatos aqui envolvidos, os investigadores observaram que o apoio social e a companhia e influência de outros podem ter efeitos positivos nos comportamentos de promoção da saúde. Por exemplo, o conselho e o apoio de um amigo podem influenciar as escolhas relacionadas com saúde e ter um efeito positivo na dieta, nível de atividade física e sentimentos gerais de stress de uma pessoa. Menos laços sociais e a falta dessas influências positivas podem tornar as pessoas solitárias mais vulneráveis a comportamentos que podem aumentar o risco de diabetes tipo 2.
Fica, por isso, o conselho de incluir a solidão nas diretrizes clínicas relacionadas com a diabetes tipo 2. “É importante que os profissionais de saúde estejam abertos ao diálogo sobre as preocupações de um indivíduo durante as consultas clínicas, inclusive no que diz respeito à solidão e interação social”.
Os autores recomendam ainda mais estudos sobre os mecanismos em causa na associação entre solidão e diabetes tipo 2 bem como os papéis desempenhados pela insónia e depressão. “As questões a serem respondidas são até que ponto a solidão leva à ativação de respostas ao stress, até que ponto a solidão afeta o comportamento relacionado com a saúde e, mais importante, como é que estes dois caminhos interagem para contribuir para um aumento do risco de diabetes tipo 2.”