
Estima-se que, em 2021, havia 8,4 milhões de pessoas a viver com diabetes tipo 1 em todo o mundo, de acordo com os resultados de um novo estudo publicado na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology. Um número que, segundo as estimativas partilhadas no mesmo trabalho, se prevê que venha a aumentar para entre 13,5 a 17,4 milhões até 2040.
“Dado que a prevalência de pessoas com diabetes tipo 1 deve aumentar em todos os países para até 17,5 milhões de casos em 2040, os nossos resultados alertam para implicações negativas substanciais para as sociedades e os sistemas de saúde”, afirma Graham Ogle, um dos autores do estudo, especialista da Sydney Medical School, Universidade de Sydney, na Austrália.
“Há uma oportunidade de salvar milhões de vidas nas próximas décadas, elevando o padrão de atendimento para a diabetes tipo 1, incluindo a garantia de acesso universal à insulina e outros medicamentos, e aumentando a sensibilização sobre os sinais e sintomas da doença, para permitir uma taxa de diagnóstico de 100% em todos os países. O nosso modelo, que será disponibilizado em código aberto, tornará os dados sobre o ónus da doença amplamente acessíveis e servirá como uma plataforma para as partes interessadas fazerem melhorias nos cuidados e resultados”, acrescenta.
Dados sobre a prevalência e mortalidade da diabetes tipo 1 raramente estão disponíveis na maioria dos países. Este novo estudo visa responder aos pedidos feitos, fornecendo estimativas de modelagem que são altamente comparáveis aos dados observados e estimando a prevalência, o que fornece uma base mais significativa para alterações nos cuidados e políticas da diabetes tipo 1.
Os resultados serão disponibilizados publicamente num banco de dados de código aberto, destinado a auxiliar os planeadores de saúde e profissionais, no sentido de melhorarem os cuidados e os resultados em saúde.
Diabetes tipo 1 cada vez mais diagnosticada em adultos
Os investigadores modelaram dados sobre a prevalência da diabetes tipo 1 em crianças, adolescentes e adultos em 97 países, juntamente com dados de incidência ao longo do tempo (65 países) e dados de mortalidade (37 países), tudo isto para prever a incidência, prevalência e mortalidade em 2021 para 201 países, com projeções de prevalência futura até 2040.
O modelo estimou que, em 2021, havia 8,4 milhões de indivíduos em todo o mundo a viver com diabetes tipo 1. Destes, 18% tinham menos de 20 anos, 64% tinham entre 20 e 59 anos e 19% tinham mais de 60 anos.
Embora historicamente o surgimento da doença tenha sido associada à infância, estes resultados revelam que numericamente há mais adultos do que crianças diagnosticados todos os anos (316.000 vs 194.000 casos incidentes em todo o mundo em 2021), com uma idade média ao diagnóstico de 32 anos.
“Estas descobertas têm implicações importantes para o diagnóstico, modelos de atendimento e programas de apoio que, nos países onde existem, são quase exclusivamente desenhados e criados para crianças e jovens com diabetes tipo 1. Além disso, as nossas descobertas enfatizam a necessidade urgente de vigilância aprimorada e recolha de dados sobre incidência, prevalência e mortalidade em populações adultas – uma área onde os dados são especialmente escassos”, refere Dianna Magliano, uma das autoras do estudo, da Monash University, Escola de Saúde Pública e Medicina Preventiva, Melbourne, Austrália.
Os líderes no número de casos e mortes
Os dez países com maior prevalência estimada de diabetes tipo 1 são os EUA, Índia, Brasil, China, Alemanha, Reino Unido, Rússia, Canadá, Arábia Saudita e Espanha, responsáveis por 5,08 milhões (60%) dos casos globais.
As estimativas do modelo falam em 175.000 mortes globais em 2021. Destas, 35.000 ou 20% foram atribuídas à ausência de diagnóstico, 14.500 das quais na África Subsaariana e 8.700 no sul da Ásia. Os especialistas estimam que mais 3,1 milhões de pessoas estariam vivas em 2021 se não tivessem morrido prematuramente devido ao tratamento inadequado da diabetes tipo 1, e outras 700.000 ainda estariam vivas se não tivessem morrido prematuramente devido à falta de diagnóstico.
“As nossas descobertas indicam que a pegada geral da diabetes tipo 1 é muito maior do que as estimativas anteriores indicaram. Isso é particularmente verdadeiro em países com rendimentos mais baixos: por exemplo, na África Subsaariana, que responde por 357.000 casos de diabetes tipo 1 ou 4% da prevalência global, mas 23% (40.000) das vidas perdidas todos os anos, destacando-se a necessidade urgente de aumentar a sensibilização para os sinais e sintomas nestes países”, afirma Kim Donaghue, especialista da Sydney Medical School.
A prevalência projetada de diabetes tipo 1 em 2040, dada pelo modelo, é de 13,5 a 17,5 milhões de pessoas. As estimativas conservadoras dão conta de um aumento relativo de 66% no número de pessoas a viver com a doença até 2040, em comparação com 2020.
“Esperamos que estes resultados de modelagem sejam usados pelos formuladores de políticas, investigadores e profissionais de saúde para construir iniciativas que melhorem a vigilância da diabetes tipo 1 em todo o mundo e encorajem programas de cobertura universal de saúde, para que os cuidados com a doença estejam disponíveis e acessíveis a todos”, reforça Tom Robinson, um dos autores do estudo.