Uma picada rápida no dedo e algumas gotas de sangue num cartão que pode ser enviado por correio normal: esta abordagem poderá em breve tornar os testes de Alzheimer muito mais acessíveis em todo o mundo. Um estudo europeu liderado por investigadores da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, está a abrir caminho para este método.
Os biomarcadores medidos neste teste foram desenvolvidos durante um longo período e demonstraram um forte desempenho, inicialmente no líquido cefalorraquidiano, depois em amostras de sangue venoso e agora no sangue de vasos superficiais do dedo.
O novo teste envolve a recolha de uma ou duas gotas de sangue de uma picada no dedo, depositados num cartão especial que separa imediatamente as células sanguíneas do plasma. Passados aproximadamente 15 minutos, depois de seco, o cartão é enviado por correio normal para um laboratório, onde são utilizadas modernas técnicas de alta sensibilidade para o analisar.
Tão eficaz como a amostra de sangue venoso
Um estudo feito com base neste teste incluiu amostras de sangue capilar de 203 pessoas que foram submetidas à picada no dedo numa das cinco clínicas de memória na Europa. O kit de teste simples foi então enviado para o departamento de neuroquímica da Universidade de Gotemburgo, onde foram analisados biomarcadores estabelecidos para a doença de Alzheimer, como o pTau217.
“O simples exame de sangue capilar funciona quase tão bem como as amostras venosas, mas, ao contrário dos exames de sangue tradicionais, este novo teste não requer transporte em gelo seco. Isto poderá aumentar significativamente a acessibilidade aos testes de Alzheimer em países e regiões que não possuem a infraestrutura necessária para análises de alta sensibilidade”, afirma Hanna Huber, investigadora da Academia Sahlgrenska da Universidade de Gotemburgo.
O teste poderá ser implementado dentro de alguns anos. Está já em curso um novo estudo europeu para examinar se o teste pode ser autoadministrado, permitindo aos indivíduos picar o seu próprio dedo e enviar a amostra para um laboratório sem necessidade de pessoal de saúde.
Deteção precoce de Alzheimer
O teste surge num momento oportuno, a par do desenvolvimento de tratamentos para a doença de Alzheimer, que requerem a deteção precoce da doença para serem eficazes.
O teste abre possibilidades para novos avanços na investigação sobre a doença de Alzheimer, incluindo o seu perfil genético e a sua prevalência nas populações globais. Contudo, os investigadores sublinham que o teste não se destina ao rastreio geral da população. A Organização Mundial de Saúde (OMS) desaconselha atualmente este rastreio, uma vez que as opções de tratamento têm sido historicamente limitadas, tornando-o eticamente infundado.