Um estudo de impacto económico desenvolvido pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP NOVA), com o apoio da GSK, conclui que a vacinação de adultos com 60 ou mais anos contra o vírus sincicial respiratório (VSR) em Portugal poderia prevenir dezenas de milhares de infeções respiratórias, evitar centenas de episódios de urgência, hospitalizações e salvar vidas.
O estudo, apresentado durante as 11ªs Jornadas do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da APMGF, avaliou o impacto clínico e económico da vacinação nesta faixa etária, demonstrando que é custo-efetiva e representa uma estratégia de prevenção com ganhos em saúde pública.
Os resultados mostram que proteger os adultos com 60 ou mais anos contra o vírus sincicial respiratório reduziria de forma significativa a carga da doença. Embora a introdução da vacinação represente um aumento de custos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), estima-se que esta medida permita uma poupança anual superior a 45 milhões de euros com custos diretos médicos . O estudo estima ainda que a vacinação permitiria diminuir o número de infeções graves e mortes associadas ao VSR, uma infeção respiratória ainda subvalorizada entre a população adulta.
Joana Alves, autora principal do estudo e investigadora da ENSP-NOVA refere que “os resultados mostram que vacinar os adultos mais velhos contra o VSR é uma medida com vantagem económica para o Serviço Nacional de Saúde, ao evitar hospitalizações, reduzir complicações e melhorar a qualidade de vida.”
De acordo com o estudo desenvolvido pela ENSP NOVA, a vacinação de cerca de 1,5 milhões de adultos com 60 ou mais anos teria o potencial de evitar aproximadamente 153 mil casos de infeção respiratória aguda causada pelo VSR, cerca de 87 mil episódios de doença associada às vias respiratórias inferiores, 2.489 hospitalizações e 2.346 episódios de urgência.
Estes episódios representam atualmente um custo anual estimado de cerca de 217 milhões de euros, entre hospitalizações, episódios de urgência, cuidados intensivos e consultas. Ao prevenir estes casos, a vacinação permitiria uma redução significativa do impacto clínico da doença. Trata-se de uma intervenção custo-efetiva, que pode ajudar a libertar recursos clínicos para outras necessidades do SNS.
Numa altura em que celebramos a Semana de Sensibilização contra o vírus sincicial respiratório , é importante relembrar que o vírus sincicial respiratório é um dos agentes mais comuns de infeções respiratórias, particularmente nos meses de outono e inverno. Embora seja frequentemente associado à infância, o vírus sincicial respiratório é também uma das principais causas de pneumonia e insuficiência respiratória em adultos mais velhos, podendo agravar doenças crónicas como a DPOC, a insuficiência cardíaca ou a diabetes.
O estudo da ENSP-NOVA utilizou um modelo económico adaptado à realidade nacional, considerando um horizonte temporal de cinco anos. Os dados foram baseados em literatura publicada localmente e complementados por fontes internacionais quando necessário. De acordo com os autores, a vacinação teria um impacto direto na redução de casos graves e na diminuição de custos médicos e sociais, reforçando o papel da prevenção como ferramenta essencial de sustentabilidade do sistema de saúde.
Joana Louro, médica especialista em Medicina Interna e investigadora principal do estudo ROSA que avalia a carga da doença, na ULS do Oeste, admite que o estudo em que está a participar “tem evidenciado que o vírus sincicial respiratório é responsável por um número relevante de internamentos em adultos portugueses, especialmente entre a população mais idosa e com doenças crónicas. Estes novos dados vêm reforçar a importância de uma abordagem preventiva e estruturada para reduzir o impacto desta infeção no País”.
O estudo ROSA, recorde-se, foi o primeiro trabalho em Portugal a caracterizar a carga da doença associada ao vírus sincicial respiratório em adultos, concluindo que a infeção pode ser tão ou mais perigosa do que a gripe em alguns grupos de risco.
De acordo com as projeções demográficas, Portugal poderá ter quase três idosos por cada jovem até 2080, o que aumentará inevitavelmente o peso das doenças respiratórias no sistema de saúde. Para o GRESP, estes dados demonstram que a prevenção e a literacia em saúde respiratória têm de ser prioridades estratégicas nas políticas públicas.
Cláudia Vicente, coordenadora do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias (GRESP) da APMGF, refere que “A evidência científica apresentada reforça a necessidade de políticas de saúde mais orientadas para a prevenção. O vírus sincicial respiratório é uma ameaça real para a população adulta, e a vacinação representa uma oportunidade para melhorar a proteção dos mais vulneráveis e reduzir a pressão sobre os serviços de saúde.”
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