As mulheres vacinadas contra o HPV têm um risco significativamente menor de desenvolver cancro do colo do útero e o efeito positivo é ainda maior para as mulheres a quem foi administrada a vacina contra o HPV em criança, revela um grande estudo realizado por investigadores do Karolinska Institutet, na Suécia, e publicado no New England Journal of Medicine.
“Esta é a primeira vez que nós, a um nível populacional, somos capazes de mostrar que a vacinação contra o HPV é protetora não apenas contra as mudanças celulares que podem ser precursoras do cancro do colo do útero, mas também contra o tumor invasivo real”, explica Jiayao Lei, especialista da o Departamento de Epidemiologia Médica e Bioestatística do Karolinska Institutet e o autor correspondente do estudo.
“É algo de que suspeitávamos há muito tempo, mas agora podemos mostrá-lo, num grande estudo, que associa a vacinação contra o HPV e o desenvolvimento de cancro do colo do útero a um nível individual.”
Risco reduzido em 88%
O HPV (papilomavírus humano) é um grupo de vírus que comummente provoca verrugas genitais e diferentes tipos de cancro, incluindo o cancro do colo do útero, uma doença que mata globalmente mais de 250.000 mulheres por ano.
Mais de 100 países implementaram programas nacionais de vacinação contra o HPV, entre os quais Portugal.
Estudos anteriores mostraram que a vacina contra o HPV protege contra a infeção por HVP, verrugas genitais e lesões cervicais pré-cancerígenas que podem transformar-se em cancro do colo do útero. No entanto, há falta de grandes estudos de base populacional que, a um nível individual, tenham estudado a ligação entre a vacina contra o HPV e o chamado cancro do colo do útero invasivo, que é a forma mais grave da doença.
Neste estudo, os investigadores acompanharam, durante um período de 11 anos, quase 1,7 milhões de mulheres com idades entre 10 e 30 anos.
Destas, mais de 500.000 foram vacinadas contra o HPV, a maioria antes dos 17 anos. A todo, 19 mulheres vacinadas foram diagnosticadas com cancro do colo do útero em comparação com 538 mulheres não vacinadas, correspondendo a 47 e 94 mulheres por 100.000 habitantes, respetivamente.
A análise dos especialistas revela que a vacinação contra o HPV foi associada a uma redução significativa do risco de cancro do colo do útero e que as meninas vacinadas antes dos 17 anos reduziram o risco deste tumor em 88%.
E revela também que as mulheres vacinadas entre os 17 e os 30 anos reduziram para metade o risco de cancro do colo do útero em comparação com mulheres não vacinadas.
“As meninas vacinadas em tenra idade parecem estar mais protegidas, provavelmente porque são menos propensas a terem sido expostas à infeção por HPV, sobretudo porque a vacinação por HPV não tem efeito terapêutico contra uma infeção preexistente”, refere o coautor do estudo, Pär Sparén , professor do mesmo departamento.
Segundo este especialista, os dados do estudo reforçam a importância “da vacinação contínua contra o HPV em crianças e adolescentes, através dos programas nacionais de vacinação”.