Parece uma coisa que as mães ou avós diriam, mas deitar cedo e cedo erguer tem as suas vantagens. A ciência confirma que as corujas, ou seja, aqueles que acordam mais tarde, têm diferenças fundamentais nas funções realizadas pelo cérebro, quando comprados com os madrugadores. Até aqui tudo bem, não fosse o facto de esta prática poder ser impeditiva de um dia normal de trabalho.
A investigação, liderada por especialistas da Universidade de Birmingham, Universidade de Surrey e Universidade de Campinas, no Brasil, confirma que aqueles cujo relógio interno convida a ir mais tarde para a cama, com um despertar também mais tardio (os que em média se deitam às 2h30 e se levantam às 10h15) têm uma conectividade cerebral em repouso mais baixa em muitas das regiões do cérebro associadas à manutenção da consciência.
E o que é que isto significa? Menor atenção, reações mais lentas e aumento da sonolência ao longo das horas de um dia de trabalho típico.
Pior desempenho pode ter explicação científica
Elise Facer-Childs, autora principal do estudo e investigadora do Centro para a Saúde do Cérebro Humano da Universidade de Birmingham, acredita que “um grande número de pessoas tem dificuldades em oferecer melhores desempenhos no trabalho ou na escola porque os horários não lhes são naturalmente adequados”.
E fala, por isso, na necessidade de “aumentar a nossa compreensão sobre estas questões, para minimizar os riscos para a saúde na sociedade, assim como maximizar a produtividade”.
O estudo, publicado na revista SLEEP, investigou a função cerebral em repouso e a sua associação às habilidades cognitivas em 38 pessoas, identificados como ‘corujas noturnas’ ou ‘cotovias matinais’.
Os voluntários foram submetidos a exames de ressonância magnética, seguidos de uma série de tarefas, com sessões de testes realizadas em horários muito diferentes durante o dia, das 8h00 às 20h00. Foram também solicitados a relatar seus níveis de sonolência.
Tramados pelo relógio biológico
Os voluntários identificados como cotovias relataram menor sonolência e tiveram um tempo de reação mais rápido durante os testes matinais, que foi significativamente melhor do que os noctívagos.
No entanto, o estudo mostra que os noctívagos eram menos sonolentos e tinham o seu tempo de reação mais rápido às oito da noite, embora isso não fosse significativamente melhor do que as cotovias, destacando que as corujas noturnas são as mais desfavorecidas pela manhã.
Curiosamente, a conectividade do cérebro nas regiões que poderiam prever melhor desempenho e menor sonolência foi significativamente maior nas cotovias em todos os momentos, sugerindo que a conectividade do cérebro em repouso das corujas noturnas é prejudicada ao longo de todo o dia (8h-20h).
“Este descompasso entre o tempo biológico e social de uma pessoa – que a maioria de nós experimentou na forma de jet lag – é um problema comum para os noctívagos que tentam ter um dia normal de trabalho”, refere Elise Facer-Childs.
“O nosso estudo é o primeiro a mostrar um potencial mecanismo neuronal intrínseco por detrás do porquê das corujas enfrentarem desvantagens cognitivas quando forçadas a ajustarem-se a essas restrições”, acrescenta. “Para gerir isto, precisamos de ter em conta o relógio corporal de um indivíduo, principalmente no mundo do trabalho.”
Segundo a especialista, “um dia típico pode ir das 9h00 às 17h00 mas, para uma coruja, isso pode resultar num desempenho diminuído durante a manhã, conectividade cerebral mais baixa em regiões ligadas à consciência e aumento da sonolência diurna”.
“Se, enquanto sociedade, pudéssemos ser mais flexíveis na forma como administramos o tempo, poderíamos percorrer um caminho para maximizar a produtividade e minimizar os riscos para a saúde.”