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A demora do diagnóstico e a falta de informação no Cancro do Pulmão de Pequenas Células

cancro do pulmão de pequenas células

Quando falamos de cancro, não falamos apenas de uma doença, mas de várias, muito diferentes, que em comum têm o facto de se iniciarem quando um grupo de células no corpo cresce descontroladamente. É assim também no pulmão, onde se distinguem dois tipos. Uma destas é o Cancro do Pulmão de Pequenas Células que, explica António Araújo, Diretor do Serviço de Oncologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto, “corresponde a cerca de 10-13% de todos os cancros de pulmão e, portanto, começa a ser relativamente raro de se diagnosticar”. Raro, mas, confirma o especialista, com grande impacto: “tem uma taxa de mortalidade muito elevada – mais de 90% dos doentes com Cancro do Pulmão de Pequenas Células terão falecido ao fim de três anos, independentemente do estadio em que são diagnosticados”.

No Mês de Sensibilização para o Cancro do Pulmão, é tempo de sensibilizar para o cancro do pulmão de pequenas células que, segundo António Araújo, “pelas suas características, tem tido pouco desenvolvimento em termos de tratamento: durante décadas, era a quimioterapia e a radioterapia e não havia mais alternativas”. Mas, reforça, “hoje em dia, felizmente, têm surgido nesta área algumas alternativas que vêm melhorar um pouco o panorama do tratamento”, o que nem sempre se traduz num acesso atempado ao mesmo em Portugal.

De facto, explica o médico, apesar de Portugal ter, nos últimos anos e no que diz respeito à inovação, “dado alguns passos para estar a par com os restantes países europeus”, perante “as dificuldades que o Serviço Nacional de Saúde atravessa, devido aos constrangimentos quer a nível estrutural como de pessoal, é evidente que pode haver algum atraso no diagnóstico e estadiamento das doenças oncológicas e mesmo no início do tratamento. Isto tem a ver com os constrangimentos, quer estruturais quer a nível de pessoal. Especificamente a nível de tratamentos médicos, Portugal também é um dos últimos países da Europa a integrar a inovação no terapêutico”.

É por essa razão que o momento do diagnóstico é de grande importância, já que, refere Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale – Associação Portuguesa de Luta contra o Cancro do Pulmão, este “é particularmente difícil, sendo que, para grande parte da população, continua a ser associado a uma sentença de morte. Para além disso, ocorrendo com maior incidência em fumadores ou ex-fumadores, há ainda um sentimento de culpa, um estigma associado à doença”.

A presidente da Pulmonale defende, por isso, a necessidade de um trabalho de capacitação da população em saúde ao longo da vida, promovendo a prevenção, o diagnóstico precoce e uma postura informada no caso de a doença ocorrer. “O facto de o diagnóstico no cancro do pulmão continuar a acontecer maioritariamente em estádios avançados contribui para a perceção existente sobre a doença.”

No que diz respeito ao cancro do pulmão de pequenas células, “é um tipo de tumor intimamente ligado ao consumo do tabaco no passado e no presente e, portanto, surge em doentes com uma elevada carga tabágica. É um tumor que classicamente se diz muito quimio e radio sensível, isto é, que responde muito bem ao primeiro tratamento que fazemos, mas que rapidamente ganha resistências”, explica António Araújo.

E isto porque, acrescenta, “muitos doentes são diagnosticados tardiamente (geral para todos os tipo de cancro do pulmão) e pelo facto de não haver grandes alternativas de tratamento eficazes face ao comportamento biológico do próprio tumor”.

Porque o cancro do pulmão de pequenas células apresenta sinais e sintomas comuns a muitas outras doenças benignas – aparecimento ou agravamento de falta de ar, tosse e expetoração – “como acontece com as asma ou a DPOC, isso faz com que o agravamento dos mesmos pareça apenas mais um episódio de agravamento das mesmas, o que contribui para que os doentes demorem mais tempo a recorrer ao médico”.

“Sendo o cancro do pulmão a doença oncológica com maior mortalidade associada, o que em grande medida decorre de os diagnósticos ocorrerem em fase avançada” e porque também, “embora não sendo uma doença exclusiva de fumadores, ocorre maioritariamente em quem fuma”, Isabel Magalhães considera que “o caminho passará necessariamente pela prevenção do tabagismo. No entanto, é absolutamente indispensável mudar o paradigma atual do cancro do pulmão, reduzindo a taxa de mortalidade, através do diagnóstico precoce, para o qual contribuirá de modo decisivo a implementação do rastreio com base populacional”.

Ainda assim, a mensagem é de esperança. “O que queremos é que os doentes com cancro do pulmão de pequenas células tenham mais capacidade de vida e melhor qualidade de vida. Para isso, devem ter esperança, porque estão sempre a ser descobertos novos tratamentos e, para os receber, devem manter-se nas melhores condições físicas e psicológicas para permitirem que os seus médicos encontrem as melhores soluções”, reforça António Araújo.

Aliás, existem, atualmente, vários estudos em fase avançada para fazer face ao cancro do pulmão de pequenas células, nomeadamente a partir de invertebrados marinhos – pelo facto de não terem sistema imunitário, percebeu-se que deveriam ter mecanismos de defesa para sobreviver à evolução dos tempos.

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