
Costuma dizer-se que uma maçã por dia mantém o médico longe, mas este fruto tem agora concorrência. É que, de acordo com um novo estudo, comer uma laranja todos os dias pode reduzir o risco de depressão em 20%.
Liderado por Raaj Mehta, professor de medicina na Escola Médica de Harvard e médico no Hospital Geral de Massachusetts, o estudo, publicado na revista científica BMC, descobriu que os citrinos, nomeadamente a laranja, estimulam o crescimento de Faecalibacterium prausnitzii (F. prausnitzii), um tipo de bactéria que se encontra no intestino humano, que influencia a produção dos neurotransmissores serotonina e dopamina, duas moléculas biológicas conhecidas por melhorarem o humor.
A depressão é uma doença que afeta mais de 280 milhões de pessoas em todo o mundo, cujas causas precisas são ainda desconhecidas e o tratamento muitas vezes ineficaz: 70% dos doentes com depressão não respondem ao tratamento inicial com medicamentos antidepressivos e/ou desenvolvem efeitos secundários intoleráveis aos medicamentos, pelo que se torna urgente identificar causas modificáveis da depressão e desenvolver novas terapêuticas.
Este foi o ponto de partida da nova investigação, que olhou para a dieta como um caminho promissor para a prevenção e controlo da depressão.
Já tinha sido confirmado que dietas do tipo mediterrânico estavam associadas a uma redução de quase 35% no risco de depressão, com impacto também na redução dos sintomas de humor. Não se sabia era quais os grupos alimentares específicos que fundamentam estas descobertas, embora a suspeita já recaísse sobre os citrinos, entre os quais a laranja.
Sabe-se também que os efeitos da dieta na saúde humana podem ser modulados pelo microbioma intestinal, que desempenha um papel no desenvolvimento de doenças mentais através do “eixo intestino-cérebro”, uma comunicação bidirecional entre o sistema nervoso central e entérico. Ainda assim, não havia estudos a explorar a forma como o microbioma intestinal pode influenciar as relações entre a dieta e a depressão.
Para colmatar estas lacunas de conhecimento, o trabalho, agora tornado público, analisou a interação entre o consumo de citrinos, como a laranja, o microbioma intestinal e o risco de depressão em mais de 32.427 pessoas.
E demonstrou um potencial papel protetor da laranja na incidência de depressão, sugerindo que o F. prausnitzii e a sua atividade metabólica podem modular a influência dos citrinos e dos seus flavonoides no humor.
“Estes dados sublinham o papel da dieta na prevenção da depressão e oferecem uma explicação plausível de como o microbioma intestinal modula a influência dos citrinos na saúde mental”, escreveram os investigadores no artigo.