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Virologistas fazem apelo urgente à ação global, face ao aumento da ameaça da gripe das aves

alerta para gripe das aves

A Global Virus Network (GVN), que representa virologistas de mais de 80 centros de excelência, em mais de 40 países, publicou uma análise e um apelo à ação: pede aos governos mundiais para que enfrentem a ameaça da gripe das aves (H5N1), reforçando a vigilância, implementando medidas de biossegurança e preparando-se para uma possível transmissão de pessoa para pessoa.

Partilhada na revista The Lancet Regional Health—Americas, tem como foco o surto do vírus da gripe das aves na América do Norte, ou H5N1, que já afetou quase mil rebanhos de vacas leiteiras e resultou em mais de 70 casos humanos, incluindo a primeira morte confirmada nos EUA.

“Compreender o panorama atual das infeções por H5N1 é essencial para uma prevenção e resposta eficazes”, afirma Sten H. Vermund, diretor médico do GVN e reitor da Faculdade de Saúde Pública da USF Health na Universidade do Sul da Flórida, EUA.

“A capacidade que o vírus tem de infetar animais e humanos, combinada com as recentes alterações genéticas, sublinha a importância da vigilância proativa e de medidas de resposta rápida.”

O vírus da gripe das aves, altamente patogénico, está a circular em todos os 50 estados americanos e no Canadá, resultando na perda ou abate de mais de 168 milhões de aves nos EUA desde 2022. Embora a transmissão de pessoa para pessoa não esteja documentada, os especialistas alertam que as mutações e rearranjos virais, ou a combinação de dois vírus da gripe, podem aumentar a transmissibilidade.

“A vigilância genómica é essencial para rastrear a evolução viral e informar as estratégias de resposta”, explica Marion Koopmans, diretora do centro de excelência do GVN e especialista do Centro Médico Erasmus, na Holanda.

“O investimento contínuo na vigilância da interface humano-animal e a partilha imediata de observações de campo incomuns e dados de sequências são essenciais para que os investigadores de todo o mundo monitorizem a dinâmica do vírus de forma eficaz.”

Reforçar a preparação para pandemias

Os virologistas da GVN sublinham a necessidade de melhorar a preparação para as pandemias, aproveitando as lições aprendidas com a pandemia de SARS-CoV-2 e os surtos anteriores, defendendo uma abordagem multifacetada para a preparação para pandemias, que inclui:

  • Vigilância melhorada: monitorização contínua de animais, incluindo testes em leite e águas residuais e de indivíduos que trabalham com animais infetados, para rastrear a evolução do vírus que pode levar à transmissibilidade de pessoa para pessoa. A GVN pede testes mais abrangentes em todo o mundo.
  • Partilha mais rápida de dados genómicos, para rastrear a evolução e a transmissão espacial do vírus, promovendo a colaboração entre redes de investigação globais.
  • Biossegurança melhorada na exploração: utilização de equipamento de proteção individual (EPI) e protocolos de limpeza rigorosos nas explorações, para minimizar a exposição humana e prevenir a propagação do vírus.
  • Planos de preparação para a implementação de testes: testes de diagnóstico autoadministrados para trabalhadores rurais, apoiados pelo acesso a cuidados para a equipa médica da linha da frente, para melhorar a deteção precoce.
  • Reforço das infraestruturas de saúde pública: aumento do financiamento e do apoio aos mecanismos de resposta, especialmente em regiões de alto risco para o vírus da gripe das aves, para melhor gerir os surtos.
  • Investimento na previsão de fenótipos a partir de dados genéticos: investir na previsão dos fenótipos dos vírus da gripe das aves a partir de dados genéticos, uma vez que as características-chave são difíceis de prever apenas a partir de sequências genómicas.
  • Investimento no desenvolvimento rápido de vacinas: incentivar o desenvolvimento e a rápida implementação de vacinas para humanos e animais, com foco nos trabalhadores rurais.
  • Plano de preparação para a implementação de vacinas e tratamentos: estudos clínicos para avaliar rapidamente as propriedades das estirpes emergentes de vírus e os possíveis tratamentos.
  • Plano de preparação para permitir estudos clínicos rápidos: foco em permitir estudos clínicos rápidos para avaliar as principais propriedades de novas estirpes pandémicas, seja do vírus da gripe das aves ou de outros, avaliar novas vacinas e tratamentos e apoiar os esforços de modelação.
  • Colaboração internacional: apoiar uma resposta global coordenada para rastrear dados, partilhar investigação e preparar-se para ameaças virais emergentes, de forma a reduzir as vulnerabilidades da comunidade e melhorar as estratégias de resposta.

“As iniciativas devem concentrar-se na melhoria das medidas de biossegurança em ambientes agrícolas e na educação do público sobre o manuseamento seguro de produtos avícolas e os potenciais riscos associados ao contacto com animais infetados”, afirma Peter Palese, diretor do centro de excelência do GVN e professor na Icahn School of Medicine no Mount Sinai.

“Dada a crescente circulação do vírus da gripe das aves (H5N1) entre mamíferos, a GVN solicita esforços urgentes para compreender e interromper a transmissão em bovinos através da gestão da manada e da possível vacinação”, alerta Ab Osterhaus, diretor do centro de excelência da GVN e diretor fundador do Centro de Medicina Infeciosa e Investigação em Zoonoses da Universidade de Medicina Veterinária de Hannover, Alemanha.

“Reforçar a vigilância nas interfaces entre animais e humanos é essencial, uma vez que os esforços de monitorização atuais são insuficientes para orientar estratégias de prevenção eficazes.”

Vírus da gripe das aves motiva alerta

Embora tenha sido realizada alguma vigilância do vírus da gripe das aves (H5N1), a GVN destaca a falta de testes e monitorização abrangentes para avaliar a propagação do vírus e os riscos para a saúde pública.

“Um sistema de monitorização nacional robusto é essencial para detetar e colocar em quarentena rapidamente os animais afetados e implementar medidas preventivas para conter a disseminação e as infeções humanas”, afirma Elyse Stachler, investigadora do Broad Institute do MIT e Harvard, EUA.

“Além disso, acreditamos que é crucial manter a confiança e a adesão das partes interessadas aos programas de monitorização, particularmente dos trabalhadores rurais.”

Todos concordam que a situação do vírus da gripe das aves (H5N1) exige uma maior vigilância e colaboração entre os setores de saúde pública, com foco na deteção precoce e a vigilância apertada para evitar uma maior propagação.

 

Crédito imagem: iStock

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