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90% de sucesso com projeto inovador de combate à anorexia

anorexia

O projeto RIPA, Resposta Integrada para as Perturbações do Comportamento Alimentar, a primeira resposta nacional de Hospital de Dia na área de problemas como a anorexia, a doença mental que pode levar diretamente à morte e tem uma elevada taxa de mortalidade por desnutrição e suicídio, conseguiu prevenir o agravamento e/ou evitar a necessidade de internamento hospitalar ou até mesmo a remissão da doença em 90% das 40 mulheres jovens, seguidas ao longo de um ano e meio de atividade.

O projeto, desenvolvido por uma equipa multidisciplinar de profissionais especializados da Clínica Psiquiátrica de S. José, em Lisboa, um dos 12 centros do Instituto das Irmãs Hospitaleiras, é uma resposta inovadora ao número crescente de casos relacionados com as perturbações do comportamento alimentar, sobretudo anorexia.

Criado como um projeto-piloto, o RIPA surge num contexto em que, em Portugal, as respostas para as pessoas com diagnóstico de perturbação do comportamento alimentar estavam quase restritas ao internamento hospitalar para os casos mais graves e a consultas de ambulatório.

Ao longo de mais de um ano de atividade, este projeto procurou dar resposta ao desafio clínico que configuram estas doenças, através de uma abordagem mais integrativa, de acordo com um plano individual de intervenção, com base em ferramentas de várias áreas da saúde, como a psiquiatria, a psicologia, a nutrição, a terapia ocupacional, a psicomotricidade, entre outras.

A solução surgiu através da metodologia de hospital de dia, que permite que as pessoas frequentem as atividades terapêuticas que contribuem para a sua recuperação, num acompanhamento que não corta a ligação à sua vida familiar e social. Tal permite não só um resultado terapêutico eficaz, mas também a possibilidade de tratar mais pessoas com perturbações como a anorexia e uma diminuição global dos custos financeiros com o tratamento.

A experiência revelou-se um sucesso e alavancou a necessidade de continuidade, através do desenvolvimento da segunda fase do projeto, desta vez com o apoio do programa Portugal Inovação Social e de dois parceiros sociais: a Servier e a NOS. “A quase ausência de respostas em ambulatório tornam este projeto de hospital de dia um marco no País, que poderá ser replicado, uma vez que foram atendidas pessoas oriundas de outras regiões de Portugal (Algarve, Alentejo, Madeira, Douro Litoral, Beira Alta) e até uma estudante de Timor”, refere Pedro Varandas, Diretor Clínico da Irmãs Hospitaleiras Lisboa.

O objetivo passa, agora, pelo crescimento do RIPA e do reconhecimento da sua metodologia e resultados como uma prática terapêutica diferenciadora. “Com este projeto, pretende-se criar um serviço, único a nível nacional, capaz de dar uma resposta de qualidade e clinicamente transformadora, promotora de saúde mental e que acrescente qualidade de vida às pessoas com perturbações do comportamento alimentar e as suas famílias”, explica Pedro Varandas.

“E foi isso mesmo que se conseguiu, reduzindo ainda os custos com internamentos de longa duração e não interrompendo totalmente a atividade académica e/ou laboral das pessoas com perturbações de comportamento alimentar.”

70% com diagnóstico de anorexia

A intervenção terapêutica do RIPA incidiu num acompanhamento intensivo por uma equipa especializada, constituída por diferentes especialidades – psiquiatria, psicologia, enfermagem, terapia ocupacional, psicomotricidade, expressão plástica, expressão dramática, yoga, grupos terapêuticos, nutrição e outras -, com o objetivo, como refere Claúdia Santos, enfermeira especialista do RIPA, “de uma mudança no sentir dos limites do corpo e das sensações vividas”.

Durante um ano e meio, foram atendidas 40 mulheres jovens, envolvidas em dinâmicas de reabilitação e de continuidade de cuidados, com permanência obrigatória de, pelo menos, duas semanas, registando-se uma utilização desta resposta que variou entre duas e doze  semanas.

Das pessoas atendidas no projeto RIPA, cerca de 70% tinham diagnóstico de anorexia, sendo a forma de doença com maior impacto na vida das pessoas. E, para a esmagadora maioria (90%), foi possível atingir o objetivo definido: prevenir o agravamento e/ou evitar a necessidade de internamento hospitalar. Destas, 13% tinham entre um e cinco anos de doença instalada, sendo que 87% tinham mais de cinco anos.

Foi ainda possível reduzir, em 80% dos casos, os comportamentos compensatórios (recurso a laxantes, diuréticos e vómito autoinduzido). A análise dos dados de acompanhamento após a alta clínica regista que 27 mulheres regressaram a uma atividade laboral e/ou académica.

As famílias também foram envolvidas no processo terapêutico, uma vez que as perturbações alimentares, e em especial a anorexia, são patologias com um impacto devastador na vida familiar. Por isso, o RIPA implementou, uma vez por semana, uma reunião online da equipa médica com as famílias, intervenção que visou a expressão emocional e o envolvimento das famílias na recuperação. No momento da alta, 100% das famílias das 40 utentes que usufruíram desta resposta manifestaram satisfação pelo acompanhamento prestado.

 

Crédito imagem: iStock

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