Entre 10 a 30% de todos os doentes com cancro desenvolvem metástases cerebrais, sobretudo a partir dos tumores da mama, pulmão e pele, e os casos estão a aumentar. Para acelerar e facilitar a investigação em busca de resultados e medicamentos eficazes, um grupo de 19 laboratórios internacionais concordou recolher e organizar digitalmente as suas informações sobre metástases cerebrais, partilhando-as.
A ciência é colaborativa por natureza, já que apenas com a união de esforços e descobertas é possível fazer avançar o conhecimento científico. Mas a falta de comunicação, presente muitas vezes, impede ou atrasa o progresso. Nos últimos anos, graças ao desenvolvimento do ecossistema digital, essas barreiras de comunicação têm sido superadas para melhorar a transparência e a troca de conhecimento entre equipas científicas.
E é o que pretende agora reforçar esta iniciativa, liderada pelo Centro Espanhol de Investigação Oncológica (CNIO), que reúne laboratórios da Alemanha, China, Estados Unidos, Irlanda, Israel, Noruega, Reino Unido e Suíça, para ultrapassar dois dos principais desafios da investigação em cancro: entender porque é que algumas células tumorais conseguem superar as fortes barreiras defensivas do cérebro e provocar metástases, assim como desenvolver medicação contra este fenómeno.
Partilha de linhas celulares
As linhas celulares, a pedra angular da investigação científica, são coleções de células de um humano ou animal adaptadas para crescer em laboratório.
Na investigação biomédica, estas linhas são fundamentais, já que permitem replicar o que ocorre num organismo doente ao nível celular e genético, para uma melhor compreensão dos mecanismos que produzem a doença e melhor explorar as terapias mais eficazes.
“A plataforma reúne linhas de células de todos os tipos”, explica Manuel Valiente, promotor e coordenador da iniciativa, “desde as cultivadas in vitro há anos, até as chamadas PDX, extraídas de um doente e as mais geneticamente semelhantes a ele, passando por linhas desenvolvidas em modelos de ratos que geraram espontaneamente metástases cerebrais”.
“O nosso objetivo é que mais equipas sejam incentivadas a investigar metástases cerebrais, facilitando o passo inicial de encontrar o melhor modelo para o trabalho”, continua o especialista, que considera “uma pena que seja tão difícil obter informações básicas, o que leva a situações como a de um laboratório, que dedica recursos e esforços para desenvolver, ao longo de meses, uma linha celular que já foi criada por outro”, o que implica atrasos na investigação.
“Se estamos num momento em que os recursos precisam de ser otimizados, especialmente agora mais do que nunca, precisamos de disponibilizar tudo o que sabemos a outros grupos e evitar a duplicação do trabalho que já foi feito.”