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Os desafios do cancro do ovário em Portugal e como lhes dar resposta

cancro do ovário

“O número de novos casos de cancro do ovário em Portugal não tem refletido a tendência decrescente de muitos países ocidentais, um dos motivos porque este tipo de cancro é preocupante”, revela Mónica Pires, representante da Sociedade Portuguesa de Ginecologia. A especialista deixa também o alerta para “a baixa sobrevivência e relevante morbilidade e mortalidade associadas”, confirmando que, em Portugal, este é um cancro diagnosticado mais frequentemente após a menopausa, “numa altura de vida profissional e familiar ainda muito ativa da mulher”.

Perante este cenário desafiante, a médica ginecologista no IPO do Porto concorda ser vantajosa a criação de centros de referência para o cancro do ovário. Isto porque “a concentração destas doentes em centros especializados, assegura-lhes o acesso aos tratamentos mais adequados e também inovadores, potenciando a sua sobrevivência”.

Existem múltiplos benefícios desta abordagem: além de aumentar a experiência clínica e maior especialização dos profissionais, “está demonstrada uma maior sobrevivência e menor morbilidade em centros qualificados de maior volume”, refletindo-se, igualmente, em termos económicos, com a possibilidade de otimização da jornada e poupança para o sistema de saúde.

“A centralização aumenta ainda a capacidade de captação de ensaios clínicos internacionais e o acesso a terapêuticas inovadoras, tão importantes em cancros como o do ovário, doença em que, apesar de haver muitas doentes curadas, existem outras que vão viver com a doença para o resto da sua vida.”

O desafio do diagnóstico do cancro do ovário

O primeiro passo quando se trata do cancro do ovário continua a ser o diagnóstico que, segundo Cláudia Fraga, presidente do Movimento Oncológico Ginecológico (MOG), é “o primeiro grande desafio” para muitas mulheres. “Como os sintomas associados a este cancro são muitas vezes pouco específicos, podem ser desvalorizados tanto pelas próprias mulheres, como pelos médicos dos cuidados primários, o que leva a que sejam diagnosticados em fases muito avançadas da doença.”

Situação que, afirma, “tem de ser alterada, porque o diagnóstico precoce é fundamental para que os tratamentos e a cirurgia possam acontecer o mais cedo possível e serem mais eficazes. Outro desafio importante é o regresso do cancro. O cancro do ovário regista uma elevada percentagem de recidivas, razão pela qual é tão importante fazer terapêutica de manutenção, que passou a ser possível para todas as mulheres com esta doença graças à aprovação do financiamento de um medicamento inovador, o que constituiu uma grande luta da nossa associação”.

Perante a natureza silenciosa deste cancro, Mónica Pires considera que “há duas áreas de atuação importantes”. A primeira, “o aumento da literacia em saúde e a atenção para os sinais de alerta que são importantes, apesar de inespecíficos, como distensão e aumento de volume abdominal, sensação de enfartamento, mau estar e saciedade precoce, frequentemente acompanhados de emagrecimento” e que, quando persistentes, “devem ser um sinal de alerta”.

A segunda frente de batalha do cancro do ovário, não menos essencial, é “a sensibilização dos profissionais de saúde que habitualmente atendem as doentes com este tipo de queixas. A atempada realização de exames de diagnóstico e referenciação para os centros de tratamento adequados permite uma orientação terapêutica mais precoce e eficaz”.

A importância da consulta anual de ginecologia

Quando se trata de prevenção, apesar de não existir para o cancro do ovário, Cláudia Fraga recomenda um ritual de saúde essencial para todas as mulheres: “a ida ao ginecologista uma vez por ano, para se ser observada e fazer exames de rotina. No entanto, se surgir algum sintoma anómalo e persistente, é fundamental ir ao médico de imediato”.

Reconhecendo os desafios do Serviço Nacional de Saúde, e embora considere “importantíssimo que todas as mulheres tivessem uma consulta anual de ginecologia”, aconselha as mulheres a “falarem com o médico de família e marcarem uma consulta de planeamento familiar, que estão abertas às mulheres até aos 54 anos. Vigiar a nossa saúde é essencial para se poder atuar atempadamente”.

Para as mulheres que vivem com cancro do ovário, recomenda a “confiança nas equipas médicas, porque temos excelentes médicos no nosso país”.

Complementarmente, reforça a necessidade de “uma alimentação equilibrada e de exercício físico, fundamental para reforçar a nossa resistência a enfrentar a doença, os seus tratamentos e os efeitos secundários. Por último, aconselho as doentes a afastarem-se do ‘Dr. Google’, sob pena de encontrarem informação pouco fidedigna, que lhes pode causar dúvidas e uma ansiedade desnecessária. Acima de tudo, devem canalizar todas as energias para a cura e não para a doença”.

 

Crédito imagem: iStock

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