Já todos, ou quase, passamos por isso: ter uma hora ou dia para tomar uma determinada medicação e esquecermo-nos de o fazer. Um esquecimento que pode ser grave para quem vive com doenças crónicas, como hipertensão, diabetes tipo 2 ou outras. A solução pode estar no telefone.
É da Universidade de Cambridge que vem esta ideia, que pretende ajudar os doentes a tomar os medicamentos conforme foram prescritos, tudo com recurso à tecnologia de resposta de voz interativa (IVR), que permite fazer chamadas telefónicas automáticas.
Os especialistas passaram da teoria à prática, através de um teste, em forma de estudo piloto, publicado na revista BMJ Open, e realizado com 17 pessoas, todas com pressão arterial alta que, ao longo de um mês, receberam chamadas automáticas, adaptadas às suas necessidades, que forneciam conselhos e apoio sobre como tomar a medicação prescrita.
Os telefonemas também fizeram uma série de perguntas interativas e reagiram às respostas dos doentes.
Foram várias as mensagens, como: “Por favor, não se esqueça de levar consigo os seus comprimidos. Para obter melhor controlo da pressão alta, é preciso que os tome todos os dias”; “por favor, continue a tomar os seus comprimidos conforme prescrito, mesmo que esteja bem e se sinta saudável. A hipertensão é uma daquelas coisas que, a menos que realmente sinta, não sabe que é um problema”; “tomar a sua medicação como prescrito irá ajudá-lo a continuar gostando de coisas ou atividades que são importantes para si”.
Os doentes preencheram ainda questionários no início e ao longo da duração do estudo e completaram entrevistas para entender o impacto do serviço.
“Esta é a primeira vez que a tecnologia automatizada de chamadas telefónicas é usada desta forma no Reino Unido”, explica Katerina Kassavou, especialista do Departamento de Saúde Pública da Universidade de Cambridge.
“Há evidências consideráveis para mostrar que as intervenções altamente adaptadas têm maior probabilidade de ajudar à adesão dos doentes ao seu regime de prescrição, o que por sua vez leva a melhores resultados para os mesmos.”
Doentes reconhecem vantagens do serviço
Desenvolvida por Simon Edwards, especialista em comunicações da equipa de telecomunicações do University Information Service, em Cambridge, a aplicação criou “uma experiência personalizada que incluía o método de entrega preferido, o tempo das chamadas e os intervalos entre as chamadas repetidas”.
O que ajudou os doentes a superar as barreiras do uso de medicamentos, tendo ainda ajudado a perceber a importância de tomar a medicação.
Embora as mensagens fossem automatizadas, foi também valorizado o aspeto social do serviço, sobretudo entre as pessoas com apoio a este nível. E valorizada ainda a possibilidade de colocarem questões, que poderiam ser acompanhadas pelos médicos ou enfermeiros.
“Estes são os primeiros sinais de que esta intervenção digital é bem apreciada pelos doentes e pode desempenhar um papel importante na gestão da sua medicação”, refere Kassavou.
“Agora, precisamos de garantir que funciona numa população mais ampla e demonstrar que é uma intervenção económica.”