É uma doença que castiga não só fisicamente, mas que deixa outras marcas, como a financeira. Quem sofre com cancro da mama é obrigado a enfrentar um ónus financeiro que não se fica pelo custo dos tratamentos. A perda de produtividade na sequência de incapacidade ou discriminação é outro dos preços a pagar, que esta quarta-feira esteve em destaque no Parlamento Europeu.
Unidas, ativistas da ABC Global Alliance (Aliança Global do Cancro da Mama Avançado) pediram aos parlamentares da União Europeia para que facilitem o regresso destes doentes ao trabalho e que os apoiem, de forma adequada, com acordos que permitam o trabalho flexível.
“A maioria das pessoas com cancro da mama está nos anos economicamente mais produtivos das suas vidas: os seus 40, 50 e 60 anos”, referiu a presidente da ABC Global Alliance, Fátima Cardoso, do Centro Clínico Champalimaud, em Lisboa.
“Não ser capaz de trabalhar é mau para eles, não apenas financeiramente, mas também emocional e psicologicamente, e também é mau para a sociedade. Há muitos estudos que mostram que os custos indiretos do cancro, devido à falta de produtividade, são realmente maiores que os custos diretos. Se estas pessoas puderem continuar a trabalhar e serem produtivas, será muito melhor para a sociedade como um todo.”
Empregadores precisam de mais formação
O cancro da mama é o tumor mais frequentemente diagnosticado em todo o mundo, afetando sobretudo mulheres, mas também alguns homens.
Mais de dois milhões de novos casos serão diagnosticados em 2018 e quase 630.000 pessoas morrerão na sequência dele, quase todas com doença avançada ou metastática. A estas juntam-se cerca de 6,8 milhões sobreviventes, muitos dos quais capazes e desejosos de trabalhar, revelam os dados mais recentes.
“Tornar difícil ou impossível que estas pessoas continuem a trabalhar está a ter como resultado uma perda colossal na produtividade económica para a sociedade”, disse Fátima Cardoso.
Barbara Wilson, líder da empresa social ‘Trabalhar com Cancro’, do Reino Unido, que ajuda as pessoas afetadas pela doença a regressar ao trabalho, referiu que “mesmo para as pessoas que estão a viver com os efeitos secundários do seu tratamento, é perfeitamente possível que continuem a trabalhar se houver estratégias adequadas para o seu apoio”.
Para isso, acrescentou, “os empregadores precisam de perceber o cancro, de comunicar efetivamente com os funcionários afetados e precisam de implementar políticas de trabalho flexíveis durante e após o tratamento, incluindo apoio individualizado para quem dele precisar”.
Para esta especialista, “os empregadores assumem, muitas vezes, que a pessoa não deve trabalhar e o encorajam-na a sair. Ou pensam que algumas semanas após o tratamento a pessoa estará ‘de volta ao normal’. Nenhuma dessas suposições é útil; até pessoas com doenças terminais podem trabalhar, quase até o momento em que morrem, dependendo do cancro e do tipo de trabalho que fazem”.
Mais políticas que tornam o trabalho mais flexível
Os especialistas pedem, por isso, aos empregadores políticas para o trabalho flexível e aos governos de toda a Europa e, de facto, de todo o mundo, que implementem legislação para tornar ilegal aos empregadores discriminar pessoas com cancro.