
Ser cuidador informal de um familiar ou amigo tem um impacto na saúde mental, revela uma investigação realizada pela St George’s, University of London e UCL, publicada na revista The Lancet Public Health.
Tornar-se cuidador informal está associado a um aumento do sofrimento psicológico, isto independentemente da idade, seja aos 16 ou aos 60. Uma alteração que, segundos os investigadores, deve merecer a atenção dos decisores, sobretudo no que diz respeito à criação de apoios para o evitar, sem esquecer os prestadores de cuidados mais jovens.
Estudos anteriores já tinham concluído que a saúde geral dos prestadores de cuidados não remunerados é pior do que a dos não prestadores de cuidados. Mas, até agora, tem havido pouca investigação sobre a forma como a saúde mental das pessoas muda quando começam a ser cuidadores e se isso varia consoante a idade, o género e a dimensão dos cuidados que prestam.
Rebecca Lacey, autora principal do estudo e especialista no Health Research Institute da St George’s, University of London, considera que “os jovens cuidadores são frequentemente ignorados, uma vez que a prestação de cuidados é vista como algo que os adultos mais velhos fazem. Apelamos aos responsáveis pela saúde para que assegurem que os profissionais de saúde identifiquem rapidamente os prestadores de cuidados, incluindo os adultos mais jovens, para que a sua saúde possa também ser analisada. Isto será essencial para quebrar o ciclo da necessidade de cuidados”.
Mais medidas para apoiar o cuidador
Os investigadores utilizaram dados de mais de 17.000 no Reino Unido para estudar as alterações da saúde física e mental associadas à tarefa de cuidar, tendo sido avaliada a saúde mental e física destes oito anos antes, durante e oito anos depois de se terem tornado cuidadores, comparando-os com os não cuidadores.
A equipa analisou quatro fases diferentes da vida: início da idade adulta (16-29 anos), início da meia-idade (30-49 anos), fim da meia-idade (50-64 anos) e fim da vida (65+ anos). Havia mais mulheres do que homens em todos os grupos etários, mas o efeito na saúde associado à tarefa de cuidar não diferiu entre homens e mulheres.
Em comparação com os não prestadores de cuidados, os cuidadores informais com idades compreendidas entre os 16 e os 29 anos, os 30 e os 49 anos e os 50 e os 64 anos registaram o maior aumento do sofrimento psicológico quando se tornaram cuidadores. A maior diminuição da função de saúde mental foi verificada entre os cuidadores com idades compreendidas entre os 30 e os 49 e os 50 e os 64 anos.
Dados que, segundo os especialistas, justificam inequivocamente a necessidade de medidas para proteger a saúde mental em declínio das pessoas que se tornam cuidadores.
A equipa também descobriu que quem tinha tarefas mais intensas (20 ou mais horas por semana) sofria de maior stress psicológico e de declínio da saúde mental. Nos prestadores de cuidados com 30 ou mais anos de idade, a deterioração da saúde mental persistiu durante vários anos depois de se tornarem cuidadores, pelo que a identificação precoce é fundamental para prevenir os efeitos a longo prazo na saúde mental.
Anne McMunn, professora de Epidemiologia Social na UCL, considera ser “menos comum as pessoas tornarem-se prestadores de cuidados no início da idade adulta, quando é provável que haja muitos papéis sociais concorrentes, como o ensino universitário e os relacionamentos, bem como a definição de uma carreira. Os cuidadores no início e a meio da idade adulta são provavelmente prestadores de cuidados a um dos pais, o que representava uma inversão de papéis difícil. Em conjunto, estes fatores podem contribuir para que o sofrimento psicológico seja mais elevado nestes grupos etários”.