O extrato de alho demonstra uma eficácia antimicrobiana comparável à de outros antissépticos e desinfetantes amplamente utilizados, como a clorohexidina, revelam os dados de investigadores da Universidade de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos.
Publicado no Journal of Herbal Medicine, o estudo sugere que, embora o elixir oral à base de alho possa causar mais desconforto do que a clorohexidina, oferece efeitos residuais mais duradouros.
“A clorohexidina é amplamente utilizada como padrão de ouro para os colutórios, mas está associada a efeitos secundários e preocupações com a resistência antimicrobiana”, observam os autores. “O alho (Allium sativum), conhecido pelas suas propriedades antimicrobianas naturais, surgiu como uma potencial alternativa.”
As conclusões baseiam-se numa revisão sistemática da literatura, na qual os autores comparam a eficácia antimicrobiana do extrato de alho face à clorohexidina na prática clínica, avaliando a sua viabilidade como substituto fitoterápico.
Vantagens e receios
“Um total de 389 artigos foram identificados em seis bases de dados eletrónicas em janeiro de 2024, e outros 13 artigos foram incluídos através de pesquisa manual de citações. Após a remoção de duplicados e a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, apenas cinco artigos foram incluídos”, relatam os autores.
A literatura analisada incluiu ensaios clínicos randomizados e estudos clínicos e os resultados indicam que concentrações mais elevadas de colutório com extrato de alho demonstraram uma eficácia antimicrobiana comparável à da clorohexidina.
“A eficácia variou de acordo com a concentração do elixir oral e a duração da aplicação, contribuindo para as diferenças nos resultados”, revela a revisão. “Alguns estudos favoreceram a clorohexidina para manter um pH mais elevado da placa bacteriana/salivar, enquanto outros referiram que o extrato de alho é mais eficaz em determinadas concentrações. No entanto, o elixir oral com alho pode causar maior desconforto”.
Embora o extrato de alho não seja isento de efeitos secundários, estes são geralmente menos severos do que os associados a compostos químicos. As reações adversas notificadas incluem sensação de queimadura e odor desagradável, o que pode afetar a disponibilidade dos doentes para substituir a clorohexidina por alternativas à base deste vegetal.
Apesar destas limitações, a revisão fornece evidências substanciais da eficácia antimicrobiana clínica do extrato de alho, “com reduções significativas na contagem bacteriana em relação ao nível basal… sugerindo a possível utilização do elixir oral com este extrato como uma alternativa viável à clorohexidina em determinados contextos”.
Os autores realçam a necessidade de mais investigação clínica, com amostras maiores e acompanhamento prolongado, para confirmar a “eficácia e melhorar a aplicabilidade clínica” do uso do alho como colutório alternativo à clorohexidina, atualmente amplamente utilizada e considerada o gold standard para os colutórios antimicrobianos.
Mais estudos necessários
A investigação estabeleceu o alho como uma das culturas antibacterianas e antifúngicas mais potentes da natureza. Há décadas que os cientistas procuram aproveitar um dos seus compostos, a alicina, que apresenta fortes propriedades antimicrobianas. Embora classificado botanicamente como um vegetal, é amplamente utilizado tanto como erva como tempero.
O consumo global de alho atingiu aproximadamente 30 milhões de toneladas métricas em 2024, com a China a dominar tanto o consumo como a produção, representando quase 80% da oferta mundial. No mesmo ano, o mercado global de extrato de alho foi avaliado em mais de 15 mil milhões de dólares.
Os extratos de alho têm aplicações em diversos produtos de saúde e estão disponíveis sem receita médica. Em contraste, os agentes sintéticos como a clorohexidina requerem geralmente a prescrição de um dentista ou médico.
“Os colutórios antimicrobianos constituem um elemento complementar essencial nos cuidados orais e dentários, atuando contra doenças orais causadas por bactérias, fungos ou vírus que atacam os tecidos duros ou moles da boca”, revela a revisão. “Diferentes colutórios antimicrobianos, sejam de venda livre ou sujeitos a receita médica, podem ser utilizados no tratamento da gengivite, cáries, doenças periodontais, halitose, etc.”
A revisão cita vários estudos que demonstram a atividade antimicrobiana dos extratos de alho contra inúmeras bactérias, fungos e vírus. Além disso, o estudo mostra que os extratos de alho têm sido investigados em diferentes contextos.
“Estes estudos contribuíram para a compreensão do papel antimicrobiano do extrato de alho em comparação com agentes sintéticos como a clorohexidina”, observam os autores. “No entanto, a maioria dos estudos é in vitro, varia em métodos e carece de padronização clínica, o que realça a necessidade de mais investigação para confirmar a eficácia do alho na prática dentária. Esta incerteza representa uma lacuna significativa na literatura sobre terapias antimicrobianas baseadas em evidências.”
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