As mortes de Anthony Bourdain e Kate Spade voltaram a mostrar o lado negro da depressão, uma doença tantas vezes silenciosa, mas capaz de levar à morte. E embora exista tratamento, são muitos os doentes para quem a medicação não surte efeito. Um novo estudo explica porquê e dá conta de uma nova forma da doença.
É um transtorno que afeta mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. Uma doença que muitos portugueses conhecem, afetando, por cá, todos os anos cerca de 400 mil pessoas. É sobre ela que os cientistas da Hiroshima University (HU), no Japão, se debruçaram, através de um estudo publicado online na revista Neuroscience, e onde dão conta da existência de uma proteína, a RGS8, que desempenha um papel nos comportamentos de depressão.
Até aqui, os especialistas acreditavam que a depressão era resultado da chamada hipótese das monoaminas, assim conhecida devido aos dois químicos de que as pessoas deprimidas carecem: a serotonina e a norepinefrina.
Ao todo, 90% dos antidepressivos são feitos com base nesta ideia, tendo como objetivo recalibrar essas duas monoaminas. No entanto, para alguns dos doentes isso pode não ser suficiente.
Estudo ‘pede’ nova medicação
“Trinta por cento das pessoas que tomam estes medicamentos não sentem qualquer efeito”, referem Yumiko Saito e Yuki Kobayashisaid, neurocientistas na HU.
“Obviamente, precisamos de uma nova medicação. Precisamos de outra explicação para o que pode causar a depressão.”
Com base em trabalhos anteriores, a sua equipa verificou que o RGS8 controla um receptor hormonal chamado MCHR1 que, quando ativo, ajuda a regular as respostas do sono, da alimentação e do humor. Em laboratório, foi possível verificar que o RGS8 inativa o MCHR1.
Assim, a ideia é que menos RGS8 significa um comportamento deprimido aumentado. No entanto, este efeito nunca foi examinado num ser vivo. Aqui, o grupo de Saito estudou a depressão em ratinhos de laboratório em dois âmbitos: ao nível comportamental e imunohistológico.
Primeiro, os ratinhos fizeram um teste de natação, um método comum de análise para avaliar comportamentos depressivos em animais. Os investigadores medem o tempo que cada animal está ativo e, em seguida, subtraem-no do tempo total do teste, deixando-os com um período de imobilidade.
Ratos com mais RGS8 no seu sistema nervoso registaram tempos de imobilidade mais curtos do que aqueles com uma quantidade normal de RGS8. E o antidepressivo que atua nas monoaminas fez com que os tempos de imobilidade fossem ainda mais curtos.
“Estes ratos revearam um novo tipo de depressão”, confirma Saito. “As monoaminas parecem não estar envolvidas neste comportamento depressivo. Em vez disso, é o MCHR1 que está.”