Os investigadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) estão a desenvolver um contracetivo oral, que deve ser tomado apenas uma vez por mês, que pode reduzir gravidezes indesejadas resultantes do esquecimento de tomar a pílula.
Os contracetivos orais são uma das formas mais populares de controlo da natalidade: por cá, os dados do 4.º Inquérito Nacional de Saúde revelam que, das 85,4% mulheres em idade fértil que usavam um método de contraceção, a maioria (65,9%) preferia a pílula combinada.
No entanto, sua eficácia depende do cumprimento da toma diária. Agora, os investigadores do MIT estão a desenvolver um contracetivo oral que pode ser tomado apenas uma vez por mês, reduzindo gravidezes indesejadas resultantes do esquecimento da toma diária.
“Esperamos que este trabalho se traduza em opções potencialmente novas para a saúde da mulher, além de outras indicações”, afirma Robert Langer, especialista do MIT.
O novo contracetivo está contido numa cápsula revestida com gelatina, que permanece no estômago após ser ingerida, libertando gradualmente o medicamento.
Por enquanto apenas testado em porcos, o estudo revelou que esta forma de libertação do fármaco pode atingir a mesma eficácia que a dose diária.
Novidade em forma de estrela
A nova pílula anticoncecional é baseada em sistemas de administração de medicamentos em forma de estrela, que a equipe do MIT desenvolveu anteriormente, e que podem permanecer no trato digestivo durante dias ou semanas após serem ingeridos.
Os sistemas de entrega são colocados em cápsulas de gelatina que se dissolvem quando atingem o estômago, permitindo que os braços cruzados da estrela se expandam e libertem lentamente a sua carga útil.
Em estudos anteriores, os investigadores testaram esta novidade usando medicação para tratar a malária e o VIH, que atualmente devem ser tomados todos os dias.
Um trabalho financiado, em parte, pela Fundação Bill e Melinda Gates, que incentivou a equipa a adaptar a cápsula para fornecer medicamentos contracetivos duradouros.
Nova pílula pode chegar em breve às mulheres
Outros trabalhos confirmaram que as pessoas se lembram melhor de tomar a medicação quando precisam de o fazer apenas semanal ou mensalmente, em vez de diariamente.
Para fazer com que a nova pílula contracetiva dure três a quatro semanas, os investigadores tiveram de incorporar materiais mais fortes do que os usados nas versões anteriores, capazes de sobreviver no ambiente hostil do estômago até duas semanas.
Para uso em humanos, a cápsula será desenhada para, após três ou quatro semanas, sair do corpo através do trato digestivo.
“Pretendemos transformar a experiência das pessoas na toma de medicamentos”, afirma Giovanni Traverso, professor do MIT e gastrenterologista do Brigham and Women´s Hospital, outro dos autores do trabalho.
“Estamos empenhados em que estas tecnologias cheguem às pessoas nos próximos anos”, acrescenta o especialista, que espera que os testes em humanos sejam possíveis dentro de três a cinco anos.
Melhorar a saúde reprodutiva
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 214 milhões de mulheres em idade reprodutiva nos países em desenvolvimento que desejam evitar a gravidez não estão a usar um método contracetivo moderno, como as pílulas anticoncecionais.
“Apresentar uma versão mensal de um medicamento contracetivo pode ter um tremendo impacto na saúde global”, refere Kirtane.
Os investigadores acreditam também que esta pílula pode ser atrativa para mulheres que preferem um contracetivo oral duradouro em vez de outras opções de longo prazo, como os dispositivos intrauterinos.
“Mesmo com todos esses dispositivos de ação prolongada disponíveis, há uma população que prefere tomar medicamentos por via oral, em vez de implantar algo”, reforça o especialista. “Para estas pessoas, algo assim seria extremamente útil.”