Há uma relação perigosa entre o bullying no trabalho e o risco de AVC, revela o maior estudo feito até ao momento para investigar esta associação, publicado no European Heart Journal. Ou seja, o primeiro faz aumentar o risco do segundo.
De tal forma que, explica Tianwei Xu, líder do estudo e investigadora da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, “a eliminação do bullying laboral significaria que 5% de todos os casos cardiovasculares seriam eliminados”.
O trabalho, agora divulgado, avaliou 79.201 homens e mulheres que trabalhavam na Dinamarca e na Suécia. Os participantes tinham idades entre 18 e 65 anos, sem histórico de doença cardiovascular, e foram questionados sobre o bullying e a violência no local de trabalho e com que frequência os viviam.
Para a investigação foi também tido em conta fatores como o índice de massa corporal, consumo de álcool, tabagismo, problemas mentais e outras condições de saúde preexistentes, assim como a profissão.
Contas feitas, 9% dos participantes relatavam ter sofrido bullying no trabalho e 13% violência ou ameaças de violência laboral no ano anterior.
Após o ajuste para idade, sexo, país de nascimento, estado civil e nível de educação, os investigadores verificaram que o risco de doenças cardiovasculares era 59% superior entre aqueles que sofreram bullying e 25% mais elevado para as vítimas de violência no trabalho, quando comparando com as pessoas que não foram expostas ao bullying ou à violência.
Mais bullying, maior risco
E quanto maiores os registos de bullying ou violência, maior o risco de doenças cardiovasculares. De facto, comparando com quem nunca viveu o problema, os que o relataram sofrer bullying com frequência – o que equivale a ser vítima quase todos os dias -, nos 12 meses anteriores, apresentavam um risco 120% superior de doenças cardiovasculares, enquanto aqueles que foram mais expostas à violência no local de trabalho tiveram um risco de AVC 36% superior.
“O assédio moral e a violência no local de trabalho são motivos de stress social”, afirma Tianwei Xu. “Esses eventos stressantes estão relacionados com um maior risco de doença cardiovascular de forma dose-resposta, ou seja, quanto maior a exposição ao bullying ou violência, maior o risco de doença cardiovascular.”
Efeito tão importante como o da diabetes ou álcool
Ainda que este seja um estudo observacional, o que significa que não pode demonstrar que o assédio moral ou a violência no trabalho causam problemas cardiovasculares, apenas que existe uma associação entre ambos, os investigadores consideram que os seus resultados são robustos e têm importantes implicações para os empregadores e governos.
“Há evidência empírica que apoio essa relação causal”, refere a especialista, que considera que “o efeito do bullying e da violência sobre a incidência de doenças cardiovasculares na população geral é comparável a outros fatores de risco, como diabetes e álcool, o que revela a sua importância em relação à prevenção de doenças cardiovasculares”.