Uma equipa de investigadores médicos da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, fez o que ainda não tinha sido feito na luta contra o cancro pancreático: desenvolveu com sucesso um modelo de tumor humano completo.
E o que é que isto significa? Que este modelo, que permaneceu intacto ao longo de 12 dias, oferece uma visão completa do tumor, uma abordagem com grande potencial para testar o efeito de diferentes medicamentos sobre o cancro pancreático e oferecer abordagens de medicina personalizadas para doentes no futuro.
Liderada pela bióloga Phoebe Phillips, a equipa tentou ir além dos modelos atuais de tumor, que são limitados.
“Um dos atuais modelos padrão para testar medicamentos é o rato, a quem se ‘dá’ cancro pancreático e depois se testam diferentes tratamentos. Mas os tumores do rato não imitam perfeitamente a biologia da doença nas pessoas”, refere John Kokkinos, um dos autores do trabalho.
“A nossa visão ambiciosa, e o projeto em que me concentrei durante três anos, era retirar um tumor do pâncreas humano e mantê-lo vivo em laboratório. Se pudéssemos fazer isso, poderíamos usá-lo para testar a quais quimioterapias o tumor de um paciente pode responder melhor”, explica.
Aqui, a vantagem é que não só esta equipa desenvolveu células tumorais, mas também a área circundante do tumor, o que o torna muito diferente da abordagem científica atual, que usa os chamados organoides.
“Um dos tópicos mais quentes na investigação do são os organoides, que basicamente envolvem retirar células tumorais de um doentes, isolá-las e, então, permitir que formem pequenas massas tumorais 3D”, diz Kokkinos.
“Então ficamos apenas com as células tumorais, e não temos as outras células em redor, como células do sistema imunológico, tecido cicatricial, vasos sanguíneos, que são todos realmente críticos para promover a agressividade do tumor.”
“Pensemos nestas células circundantes como a fortaleza que promove o crescimento do tumor e que pode realmente ser um jogador chave no aumento da resistência à quimioterapia”, acrescenta, referindo ser, por isso, que se sente “que olhar para as células tumorais por si só não representa o verdadeiro quadro clínico”.
Para manter tudo intacto, a equipa desenvolveu uma forma de manter vivo um tumor, durante 12 dias, numa incubadora de laboratório.
“Essencialmente, estamos a tentar imitar o tumor de uma forma que nos permita testar a terapêutica”, refere Phoebe Phillips.
“Este é o primeiro modelo que dura tanto tempo. Outros laboratórios fizeram algo semelhante, mas apenas por dois ou três dias, e mesmo assim não mantém a viabilidade e a arquitetura dos tumores”, avança a especialista, que explica ainda que foram caracterizados diferentes tipos de células do tumor ao longo do tempo.
Testar diferentes medicamentos para o cancro pancreático
O objetivo final do desenvolvimento deste modelo é ser capaz de testar o efeito de diferentes medicamentos, tanto de forma ampla como em termos da forma como atuam nos tumores de diferentes indivíduos.
“O que isto nos permitirá fazer é testar até 10 medicamentos diferentes simultaneamente numa amostra cirúrgica”, explica Kokkinos.
“Como se obtém o resultado em algumas semanas, podemos voltar e informar a equipa clínica sobre qual o medicamento que está a funcionar melhor no tumor de um doente específico. Esperamos que isso acabe por ser uma forma realmente rápida de se alimentar a situação clínica.”
A próxima etapa é, dizem, “mostrar que o nosso modelo prevê a resposta do doente com precisão”.