Uma análise de sete estudos de investigação internacionais, publicada na revista Hypertension, da American Heart Association, revela que, mesmo em adultos sem hipertensão, as leituras da pressão arterial podem aumentar mais rapidamente ao longo do tempo com o aumento do número de bebidas alcoólicas diárias.
Pela primeira vez, esta análise confirma um aumento da pressão arterial tanto em pessoas com baixo como com elevado consumo de álcool. Ou seja, mesmo níveis baixos de consumo foram associados a aumentos detetáveis dos níveis de pressão arterial, o que faz aumentar potencialmente o risco de eventos cardiovasculares.
É isso mesmo que confirma o autor sénior do estudo, Marco Vinceti, professor de epidemiologia e saúde pública na Faculdade de Medicina da Universidade de Modena e da Universidade de Reggio Emilia, em Itália.
O coautor do estudo, Tommaso Filippini, professor associado de epidemiologia e saúde pública da mesma instituição, explica que esta análise se centrou nas gramas de álcool consumidas e não simplesmente no número de bebidas. Uma abordagem adotada para evitar enviesamentos que poderiam resultar de variações na quantidade de álcool presente nas “bebidas padrão” nos diferentes países e tipos de bebidas.
Depois de analisar os dados de saúde dos participantes dos sete estudos ao longo de um período de mais de cinco anos, os investigadores fizeram comparações entre os consumidores regulares de álcool e os não consumidores, o que levou às seguintes conclusões:
Em indivíduos que consumiram uma média de 12 gramas de álcool por dia, a pressão arterial sistólica (número superior) aumentou 1,25 milímetros de mercúrio (mm Hg), tendo aumentado para 4,9 mm Hg nos que consumiram uma média de 48 gramas por dia. (Nos EUA, cerca de 300 ml de cerveja normal, 140 ml de vinho ou um shot de 40 ml de bebidas espirituosas destiladas contém cerca de 14 gramas de álcool. O teor pode variar nas bebidas alcoólicas disponíveis consoante os países).
Relativamente à pressão arterial diastólica (número inferior), uma média de 12 gramas de álcool por dia conduziu a um aumento de 1,14 mm Hg, enquanto que aumentou para 3,1 mm Hg nas pessoas que consumiam uma média de 48 gramas de álcool por dia. Estas associações foram observadas nos homens, mas não nas mulheres. A pressão arterial diastólica mede a força exercida contra as paredes das artérias entre os batimentos cardíacos e é considerada menos forte na previsão do risco de doença cardíaca do que a pressão arterial sistólica.
De acordo com Vinceti, embora o álcool não seja o único fator responsável pela pressão arterial elevada, os seus resultados estabelecem inequivocamente a sua contribuição significativa. Aconselha, por isso, a limitar o consumo de álcool e, idealmente, a evitá-lo por completo para obter melhores resultados em termos de saúde.
É de salientar que, embora nenhum dos participantes tivesse pressão arterial elevada no início dos estudos, as suas medições iniciais da pressão arterial influenciaram as associações observadas com o consumo de álcool.
Segundo o coautor do estudo, Paul K. Whelton, especialista do departamento de epidemiologia da Escola de Saúde Pública e Medicina Tropical da Universidade de Tulane, em Nova Orleães, e presidente da World Hypertension League, a sua investigação revelou uma correlação notável entre o consumo de bebidas e as alterações da pressão arterial ao longo do tempo, em especial nos participantes com leituras de pressão arterial de base mais elevadas.
Isto indica que os indivíduos com tendência para um aumento (embora ainda não “elevado”) da pressão arterial podem retirar os maiores benefícios da redução do seu consumo de álcool para níveis baixos ou nulos.